As duas pesquisas de intenção de voto divulgadas nos últimos dois dias têm muitas semelhanças, mas há uma diferença entre elas que chama atenção: a distância entre os pontos de Lula e Bolsonaro.
A pesquisa do Datafolha divulgada nesta quinta, 26, mostra uma diferença de 21 pontos entre os candidatos, com o ex-presidente com 48% dos votos e o atual presidente com 27%. Já a pesquisa XP/Ipespe divulgada nesta sexta, 27, mostra uma vantagem de apenas 11 pontos do petista: Lula teria 45% das intenções de voto contra 34% de Bolsonaro.
O que explica essa diferença?
Fazendo uma análise dos dois levantamentos, é possível constatar que os números de Lula e dos candidatos da terceira via são praticamente iguais nas duas pesquisas.
O que muda é o desempenho de Bolsonaro.
A pesquisa anterior do Datafolha, apurada em 22 e 23 de março, ainda considerava Sérgio Moro como candidato na disputa presidencial. Naquela época, Bolsonaro tinha 26% das intenções, apenas um ponto a menos do que tem agora. É como se a saída de Moro, para o Datafolha, não tivesse adicionado nenhuma força a Bolsonaro. Acontece que outros levantamentos apontam que o atual presidente ganhou uma vantagem relevante com a saída do ex-ministro.
A pesquisa anterior XP/Ipespe é bem mais recente, da última semana, e por isso o cenário já não considerava Sérgio Moro na disputa. Comparado com o levantamento anterior do Ipespe, Lula ganhou 1 ponto e Bolsonaro ganhou 2.
Outra diferença importante que pode ter impactado os números dos dois levantamentos são os entrevistados que responderam que não votariam em nenhum candidato ou que votariam em branco ou nulo. No Datafolha, o percentual é de 11%. No XP/Ipespe, esse número é de 5%.
Apesar dessas diferenças, muitos pontos são semelhantes nas pesquisas: Simone Tebet tem 2% das intenções de voto no Datafolha e 3% na XP/Ipespe. Ciro Gomes também tem desempenho muito parecido: 7% no Datafolha e 8% no Ipespe.
O que contrasta os dados dos dois institutos é que o Ipespe, que faz levantamentos mais frequentes, captou desde o início a migração dos eleitores de Sérgio Moro para Jair Bolsonaro, já o DataFolha não, o que é improvável – mas não impossível. Ao mesmo tempo, a saída de Doria pode estar beneficiando Simone Tebet e, de alguma forma, beneficiar Lula também.
É importante registrar, contudo, que a amostra do DataFolha é bem mais robusta, 150% maior. Enquanto o instituto paulista ouviu 2,5 mil brasileiros, o Ipespe entrevistou 1 mil.
Por isso, não se deve esperar que os institutos vejam a mesma coisa o tempo todo, já que os métodos de coleta e amostragem são diferentes, e o tamanho das amostras também varia.
Com tantas mudanças no cenário e nos candidatos, é preciso acompanhar de perto a evolução das pesquisas e considerar que, quando a campanha de fato começar, as mudanças podem ser ainda maiores.