O número oficial do déficit do primeiro ano do governo Lula-3, de R$ 231 bilhões, é enganoso. Quase R$ 100 bilhões são precatórios da gestão Bolsonaro, que não pagou integralmente as dívidas judiciais já vencidas. Outros R$ 17 bilhões foram retirados do ICMS dos estados sobre combustíveis pelo ex-presidente para baixar a inflação na marra perto do período eleitoral.
Ou seja, truques e pedaladas são quase R$ 120 bi desse total.
Mas a pergunta que fica é: por que Lula pagou agora se também poderia adiá-los?
Um dos cálculos feitos pelo governo, e confirmado pelos economistas, é o de chegar no ano da próxima eleição presidencial, em 2026, com bons resultados econômicos para apresentar ao eleitor. O outro é que milhares de brasileiros são credores do governo por precatórios. Pior, essa parte da dívida que não seria paga estava formando uma bola de neve que cairia no colo do próximo governo, que assumirá em 2027. Seriam mais de R$ 200 bilhões.
Mas o plano de Fernando Haddad de buscar o equilíbrio fiscal esbarra justamente em uma ala do PT contra a responsabilidade fiscal. Enquanto o ministro da Fazenda tem mantido esforços para que o déficit neste segundo ano seja zero, setores do PT defendem o aumento de gastos justamente por 2024 também ser ano eleitoral.
A disputa pelas prefeituras das capitais pode adiar o plano de Haddad e atrapalhar a ideia de tirar o Brasil do vermelho em 2024 e levá-lo ao superávit fiscal até 2026 para apresentar ao leitor um país recuperado na disputa pelo poder.
Pode-se perguntar: o que ganha Haddad colocando para dentro do déficit pedaladas e truques do governo Bolsonaro, o que produziu esse número horroroso (R$ 231 bi de déficit) que foi para a primeira página de todos os jornais e sites de revistas?
É que ele quer a partir de 2024, primeiro ano do novo arcabouço fiscal, não carregar o peso desse passado criado por Bolsonaro-Guedes. E ao mesmo tempo interromper a formação dessa verdadeira bomba de efeito retardado armada no governo anterior.