A conversa entre o líder do governo, Randolfe Rodrigues, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, chamou mais atenção que outras na fila de cumprimentos do novo chefe do judiciário – Luís Roberto Barroso – após a sessão na corte desta semana. É que era animada. Pareciam velhos amigos. E todos sabem como o governo e o BC se estranharam nestes primeiros meses. Só na quarta-feira passada houve o primeiro encontro amigável entre o presidente do BC e o presidente Lula.
Evidentemente que os outros convidados, mais abelhudos como, por exemplo, os jornalistas, tentaram se aproximar. Ou, no mínimo, esticar os ouvidos.
Foi então que se ouviu uma só palavra sendo repetida enfaticamente pelo líder do governo: “seis, seis, seis”.
A conclusão apressada dos ouvidos indiscretos era a de que os dois falavam sobre o piso dos juros.
Como o país tem testemunhado, após embates políticos acalorados, e queda da inflação, os juros começaram a ser reduzidos. Foram, em duas reuniões do Copom, de 13,75% para 12,75%.
O BC já disse que o corte vai continuar. Mas até que ponto? Há muitas projeções do mercado – as mais otimistas apostam que cairão até 9% no ano que vem. Mas 6% ninguém ainda ousou imaginar.
A impressão que dava era a de que o líder do governo dizia à autoridade monetária nacional qual deveria ser o piso dos juros.
Uma maior aproximação do ouvido indiscreto revelou que se tratava, vejam vocês, de uma conversa sobre o jogo de 1981, entre o Flamengo e o Botafogo quando o rubro-negro venceu por 6 x 0 o atual líder do brasileirão, devolvendo a goleada de nove anos antes. Roberto Campos Neto é botafoguense mas parecia não se incomodar com as más lembranças.
Muitas coisas surpreendiam na conversa, entre elas o fato de que Randolfe Rodrigues sabia, de cor, todos os placares dos jogos do Flamengo desde a década de 70.
O ouvido indiscreto passou a ser parte da conversa e a pergunta óbvia era como o líder do governo sabia tudo isso.
O senador Randolfe confessou que gostaria de ter sido jogador de futebol, atacante. Dado que não conseguia, a cada fracasso se preparava para ser comentarista de esporte, ou de futebol, no caso. Roberto Campos Neto brincou que, se fizesse isso a cada derrota no esporte, estaria até hoje estudando jogos.
A fila andava devagar, ninguém parecia ter pressa e o bate-papo descontraído passou então para outra modalidade de esporte. O tênis.
O presidente do Banco Central joga tênis há 14 anos. Ou estava sendo humilde ou também não vai bem na “carreira amadora”.
É que Roberto Campos Neto deu as primeiras raquetadas aos 40 anos e, quem começa a jogar muito tarde, nunca consegue ter uma precisão nas jogadas (ou no movimento da raquete) como quem começou em tenra idade.
Outro dia, segundo ele próprio, tomou um “pneu” num set – o famoso 6 a 0. Quando joga com a mulher, no entanto, tem pequeno alívio. Sempre faz um ou dois games e não perde de zero. Ele suspeita que seja generosidade da mulher.
Perguntado se jogava duplas com ela, aproveitando o bom domínio que ela tem no esporte, Roberto Campos disse que não funciona. A mulher, competitiva como toda esportista, prefere não tê-lo como parceiro no tênis (muitos emojis com carinhas de risos).
Em tempo: o botafoguense Roberto Campos Neto tem um filho são-paulino. Por isso foi ao estádio do Morumbi, no domingo passado, para ver o São Paulo ser campeão. No primeiro gol do Flamengo sofreu como se tricolor fosse. Não queria ver o filho infeliz, exatamente no dia em que ele o levava ao estádio. O sofrimento de Roberto Campos Neto durou muito pouco. Minutos depois o São Paulo fez o gol que o levou à vitória inédita no campeonato.
Mais sofrem os que querem a queda rápida da Selic, porque na terça, 26, a ata do Copom reafirmou: os cortes vão nesse mesmo ritmo, apenas meio ponto a cada reunião.