Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Imagem Blog

Matheus Leitão

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
Continua após publicidade

Onze de Setembro e o fracasso das ambições fanáticas

Ensaísta Davi Lago encontra uma ponte entre o 11 de Setembro estadunidense e o 7 de Setembro brasileiro passado

Por Davi Lago
11 set 2021, 16h33

Os atentados de 11 de setembro de 2001 no World Trade Center marcaram a história da civilização como símbolos da destruição. Tony Judt considerou o 11/9 uma espécie de final tardio do século 20, um fecho extra, um “sangrento post scriptum endereçado aos que possam ter esquecido as lições do século ou que não conseguiram aprendê-las”, encerrando uma cadeia de horrores evocadas por termos como “Auschwitz”, “Pearl Harbor”, “Hiroshima”, “Gulag”, “Bósnia” e “Ruanda”. Já Tzvetan Todorov considerou o 11/9 o verdadeiro início do século 21, ao reordenar o mundo em torno de um novo messianismo político, aquele que visa “impor o regime democrático e os direitos humanos pelas bombas”. Na verdade, se deixarmos de lado a discussão boba sobre finais e inícios de séculos, perceberemos que as visões de Judt e Todorov não são excludentes, mas complementares. George W. Bush disse: “esse conflito começou numa época e nas condições impostas por outros. Terminará da maneira e na hora de nossa escolha”. A confusa saída estadunidense do Afeganistão em 2021 provou justamente o contrário. Vinte anos depois, o Onze de Setembro atesta tanto a capacidade humana em violentar seu próximo como a incapacidade de formatar mentes e comportamentos à base da força.

A promoção da educação e o esforço dialogal permanecem como as ferramentas mais poderosas que os seres humanos dispõem para a cooperação civilizacional. A paranoia em exterminar ou isolar inimigos gera um ambiente enervante e extenuante. Quem é obcecado em construir muros não percebe que alguém pode cavar um túnel. Neste ponto, encontramos uma ponte entre o Onze de Setembro estadunidense e o Sete de Setembro brasileiro passado. O medo é motor da paranoia. É simplesmente constrangedor ver o chefe do Executivo, em pleno exercício do cargo, discursar, em clara campanha eleitoral, contra o Poder Judiciário, dizendo que não vai “obedecer” ao que for determinado por um Ministro do Supremo Tribunal Federal. O que se espera de líderes qualificados é capacidade de propor saídas concretas aos desafios sociais, não reclamações pueris. No Estado democrático de Direito o poder fiscaliza o poder. Para quem tem compromisso democrático, afirmar a descentralização, harmonia e o equilíbrio entre os poderes é sempre preferível às arbitrariedades das ditaduras. Na democracia, governar é dialogar.

O Onze de Setembro e seus congêneres revelam que a ambição fanática de instaurar uma ordem pela violência é mera manobra retórica, sem qualquer efeito prático para a construção de uma sociedade próspera. Como disse Billy Graham na Catedral Nacional em 14 de setembro de 2001, o mundo só se constrói se entendermos que precisamos uns dos outros. A despeito do ataque terrorista, a imagem do equilibrista Philippe Petit atravessando oito vezes as Torres Gêmeas em 6 de agosto de 1974 tornou-se um símbolo atemporal do inusitado. A reação à sua performance foi tão pitoresca que a justiça estadunidense o “sentenciou” a realizar uma nova performance para crianças no Central Park. Petit chegou a receber um “visto permanente” de acesso ao topo das torres pelas autoridades portuárias de New York. O próprio Petit afirmou que deu ao mundo uma “imagem de vida”. É sempre melhor gerar vida. Assim como os bombeiros de New York se tornaram símbolos de heroísmo: arriscando a vida para salvar outras.

* Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.