Um dia tocou meu telefone e era o então prefeito de São Paulo Bruno Covas, falecido neste final de semana. Bruno queria solidarizar-se com ataques das claques das redes sociais contra mim. Disse que acompanhava o trabalho e sabia, à distância, que as minhas intenções no jornalismo eram as corretas.
Bruno é daqueles raros políticos que fez política com o coração e não com o fígado. De tão ímpar, lembrava seu avô, Mário Covas. É até clichê, mas no caso dos dois não dá para fugir: “quem sai aos seus não degenera”.
A brava luta de Bruno Covas contra o câncer, trabalhando pela cidade de São Paulo, enfrentando o isolamento na prefeitura – morando por lá para fugir do vírus, enquanto frágil por outra doença, foi uma das coisas mais honrosas que a política brasileira testemunhou nesses anos terríveis de polarização.
Seu avô, Mário Covas, foi o político que me despertou para a importância da política. Era 1989, eu tinha 11 anos. Durante a campanha presidencial daquele ano, após a ditadura, fui a um comício do tucano acompanhado por uma tia, Simone, que à época estava encantada com a possibilidade de votar no avô de Bruno.
Ouvi um político falar de democracia, estado de direito, direitos humanos, esperança – Mário Covas ficava vermelho, e com a voz rouca falando de valores, sem intimidar adversários, sem precisar disseminar fakenews, sem ódio. Utopia?
Ao fim do comício consegui chegar perto do avô de Bruno Covas, em meio a uma grande confusão, e recebi uma bic laranja de presente do político e um afago na cabeça. Por anos guardei o carinho e a caneta. Lembrei-me ao ver o seu neto falecer tão jovem. Hoje penso: se a trajetória de Mário Covas me despertou o interesse para a política, a luta de Bruno renovou a minha esperança. Parabéns a esta família.