O fato político da semana no governo Lula foi a rendição do presidente ao centrão – leia-se Arthur Lira – a ponto de trocar uma Ana Moser, e o imponente currículo da jogadora de vôlei servindo o país, por um André Fufuca, e tudo que ele não representa para o esporte brasileiro.
Se avaliarmos tanto pelo fato em si como pela forma desrespeitosa, é uma das decisões mais trágicas do governo Lula-3 em termos de simbologia.
Com a justificativa da governabilidade e do pragmatismo em relação às pautas do governo no Congresso, Lula tirou uma mulher do seu time e colocou um homem branco – o mesmo homem branco que votou pelo impeachment de Dilma Rousseff, e que o PT usa para taxar os adversários de covardes.
E isso acontece justamente quando o país comemorava pela primeira vez um ministério com mais mulheres, ainda que longe da representação paritária.
Ser coerente com o que se prega na política não é fácil, e foi essa rendição que a decisão de Lula mostrou.
Ana Moser era a primeira mulher à frente do ministério dos Esportes. Não é mais. Ficou menos de nove meses completos.
Lula afirmou que, vencendo as eleições, faria um governo plural, com representatividade das mulheres e das minorias em seu ministério – trazendo pessoas das mais diferentes áreas capazes de transformar o Brasil.
Ana Moser é uma delas. André Fufuca, não.
Mas a questão se agrava à medida que se vê o desabafo de Ana Moser após a demissão. Além de sincero, a declaração vai no ponto. “É uma pena. É um abandono do esporte, mas faz parte da política”, disse a ex-jogadora de vôlei após ser demitida do ministério dos Esportes por Lula.
A política em Brasília necessita de pragmatismo, mas não pode ser usada para tirar uma medalhista olímpica do ministério dos Esportes, entregando a pasta a um carreirista político que nunca apresentou um projeto sobre a área que comandará.
Críticos dirão que a coluna já está errada porque a delação de Mauro Cid é bem mais importante que a demissão de uma mulher que comandava o Ministério dos Esportes. Engano, politicamente é a demissão de Ana Moser, revelando Brasília como ela é: a esportista não tem o padrinho que Fufuca mostrou ter.
Mauro Cid é o fato jurídico, a página policial mais lida da semana. Tem a ver com Bolsonaro e não com o governo Lula.