Pesquisadores do país podem perder bolsas por negacionismo do governo
Diversos países tem barrado a entrada de brasileiros por causa da pandemia
A postura negacionista do governo federal no enfrentamento à pandemia de covid-19 tem provocado prejuízos irreparáveis ao desenvolvimento científico nacional. Diversos pesquisadores e estudantes aprovados em universidades estrangeiras para o recebimento de bolsas de estudo não estão conseguindo os vistos para viagem.
O motivo é a barreira sanitária implementada por vários governos estrangeiros para impedir a entrada de brasileiros – em razão do descontrole do novo coronavírus e do surgimento de novas cepas no país, consideradas mais contagiosas. Espanha, França, Alemanha e Itália são algumas das nações com restrições a brasileiros.
O problema é grave sobretudo porque grande parte dos pesquisadores e estudantes contemplados podem perder as bolsas de estudo caso não se apresentem nas instituições de ensino na data aprazada. Eles têm se mobilizado para pedir aos governos desses países o reconhecimento do estudo como “motivo imperioso” para que possam cruzar as fronteiras, e, assim, dar prosseguimento à formação.
“Tento passar na prova desde 2018. Consequentemente, também venho juntando dinheiro desde essa época. No início do ano, após um processo longo e desgastante, recebi a informação de que havia sido aceita. Desde então, mudei todos os setores da minha vida, incluindo demissão do meu estágio, trancamento da minha matrícula e um gasto já feito superior a R$ 10 mil”, conta a estudante de Direito Bárbara Luíza Magalhães Honorato, de 22 anos.
Ela ganhou uma bolsa de Graduação em Criminologia na Universidade de Santiago de Campostela, na Espanha – um curso que não existe no Brasil. “Caso não consiga estar na Espanha no meio de agosto, ou, no máximo, no início de setembro, perderei não só minha bolsa, como ficarei desempregada e com um prejuízo financeiro imenso”.
Hoje, pelo menos mil brasileiros estão nessa situação, entre graduandos, mestrandos, doutorandos, alunos de pós-doutorado e pesquisadores da Capes e do CNPQ. As expectativas, porém, não são as melhores, já que o governo federal continua atuando de forma errática para controlar a disseminação na doença, com atrasos na vacinação da população e leniência na implantação de medidas de isolamento social.
Para tentar resolver o problema, Bárbara, juntamente com outros colegas, fundou o movimento “Estudiar Es Esencial”, que busca sensibilizar autoridades brasileiras e espanholas.
“A melhor solução é que o governo brasileiro, principalmente o Itamaraty, se sensibilize com a causa dessas centenas de estudantes e faça uma ponte de comunicação entre os países europeus. É importante ressaltar que estamos dispostos a cumprir qualquer medida sanitária imposta por esses países e que esse estudo não é de interesse individual e sim nacional, uma vez que estamos saindo do país em busca de conhecimento para retornar posteriormente com esse para a evolução do país”, complementou Bárbara.