Por que a eleição de São Paulo se mostra caótica a médio prazo
Em artigo enviado à coluna, o cientista político Rodrigo Vicente Silva mostra porque a terceira via continua a patinar no Brasil
Ainda no primeiro semestre escrevi nesta coluna que teríamos uma eleição municipal pautada por discussões de cunho nacional, muito distante do que costumam ser os pleitos nas cidades.
À época – porque tudo ainda era uma tentativa de ler o cenário – suspeitava que este seria o caminho inevitável das coisas, dado que a tal polarização estava – e ainda está aí – para todo mundo ver. De lá pra cá, a coisa não parece estar muito diferente. Pelo contrário, ao longo dos meses e conforme foram se realizando as convenções, ficou claro que haveria o candidato de Bolsonaro e o candidato de Lula.
Mas tem uma terceira via que teima em pôr o bloco na rua e se tornar competitiva. Será que funciona? Vale olhar para o cenário de São Paulo para tentar compreender o que teremos pela frente nos próximos três meses e perceber que a história não será muito diferente do que temos vivido até aqui.
São Paulo tende a entregar para além da polarização Boulos e Nunes, respectivamente os candidatos de Lula e de Bolsonaro na capital paulista. Fechadas as convenções, ao menos três outros parecem vir para a briga com alguma força, são eles: Pablo Marçal pelo PRTB, Tabata Amaral pelo PSB e o eterno candidato José Luiz Datena pelo falecido PSDB. A última sondagem da Quaest mostrou que os três, em especial Datena e Marçal, podem mexer com o jogo eleitoral em São Paulo.
Marçal quer entrar na polarização, mesmo tendo sido escanteado pelo ex-presidente Bolsonaro, que optou pela reeleição de Ricardo Nunes do MDB. O coach, cujo currículo é para lá de polêmico, não se contenta em ser terceira via e clama ser o candidato oficial de Bolsonaro. De discurso ofensivo, sai atirando para todos os lados. Será pedra no sapato principalmente de Nunes, uma vez que os cenários de pesquisa que não trazem Marçal mostram que os votos dados ao coach tendem a ir em massa para o atual prefeito.
Datena, aquele que já se mostrou o eterno candidato, chegou chegando. Brigou com correligionários do PSDB já na entrada da convenção e não deu garantia alguma de que deve seguir em frente desta vez. Seus votos parecem se reorganizar para os outros candidatos igualmente. Datena tenta se vender como puro, aquele que não deve para ninguém da política e pula de galho em galho até que algum partido o deixe fazer como Bolsonaro, que ganhou um PL só para si. Difícil acreditar que algum dirigente partidário fará isso. Nem Valdemar faz com Bolsonaro. É provável que o PSDB até tente fazer porque não tem muito o que perder, mas daí o apresentador Datena igualmente tem pouco a ganhar. Tudo se desenha para mais uma desistência de Datena. A se ver…
Tábata Amaral foi consagrada pelo PDT, mas parece, ao que tudo mostra por aqui, que a campanha não deve decolar. Não conseguiu atrair partidos e tenta ser uma espécie de Simone Tebet da eleição municipal. Parlamentar atuante, Tábata impõe uma postura combativa, tentando mostrar seus atributos, que se mostram, de fato, invejáveis. Moradora da periferia de São Paulo, aluna de escola pública, chegou à Harvard e se formou em Ciência Política e Astrofísica. Falta, claro, combinar com o eleitor brasileiro, que nem sempre parece aderir bem à ideia de sucesso educacional. Prefere, na maioria das vezes, sucessos de empreendedores, influencers e figuras cativas e famosas. Não à toa, Tábata Amaral está em quarto lugar na corrida pela prefeitura da capital paulista.
Duas são as mais possíveis conclusões. A primeira é a de que a polarização está aí e parece não arrefecer. A segunda é que, além de não sair de cena, estaremos presos a defesas de “legados” dos grandes líderes da atualidade nos cenário político. Saem as discussões de asfalto e creche, entram as defesas de Bolsonaro e Lula. Candidato preparado e com programa de governo para olhar para o futuro da cidade? Deixa para a próxima. É estarrecedor.
* Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Cursou História (PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribui semanalmente com a coluna