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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Por que a hiper politização é exaustiva e danosa?

Em artigo enviado à coluna, o cientista político Rodrigo Vicente Silva analisa o modo como temas e figuras políticas tem sido tratados no debate social

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 set 2024, 20h17

Tudo passou a ser excessiva e exaustivamente político. Há filósofos que tratam disso com muita propriedade. Foucault, por exemplo, era um deles. Entendia que o poder estava em toda parte e manifestava-se de muitas formas nas menores atitudes. Estou totalmente de acordo. Até porque quem seria eu para discutir ou discordar de Foucault. Eu li aqui e ali alguma coisa. A questão não é entender sobre a microfísica do poder ou coisa que o valha.

O ponto é entender por que, a todo momento e em qualquer lugar, você parece estar com um potencial Foucault a sua frente te lembrando que tudo é político e precisa ser politizado: o cabelo que você usa, a roupa que veste, a comida que come, o lugar que mora, o transporte que usa, o lugar onde compra, aquilo que não compra e deveria comprar, o que assiste, aquilo que fala ou deixa de falar. A lista é interminável! Não sei se isso tem feito bem à sociedade.

No bojo do “tudo é político”, obviamente, aquele autor ou autora que você lê também se torna uma atitude política. O problema é que, uma vez alçado ao sacrossanto lugar de guru disso ou daquilo, ou deste ou daquele tema, deixa-se de poder falar de qualquer coisa que ouse criticar por mínimo que seja determinada discussão. E, sim, estou falando de Silvio  Almeida. Ilustro com uma história.

​Era o mês de março e uma entrevista no jornal Folha de S. Paulo com o professor Muniz Sodré discutia o lançamento de seu livro à época, intitulado O fascismo da cor. Sodré, professor  emérito da UFRJ, questionava a ideia de racismo estrutural. Perceba, leitor, que não era nada absurdo, que ousasse questionar um problema tão grave e tão entranhado em nossa História como o racismo. A questão era um ponto de vista diferente.  

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Basicamente a ideia era dizer que diferentemente do que defende o agora ex-ministro Silvio Almeida, o racismo estava entranhado em atitudes e ideias socialmente dissipadas por camadas e mais camadas da sociedade. Ou seja, não só como intelectual e estudioso, mas como homem negro também, o professor Muniz Sodré entendia que tínhamos um problema muito maior a enfrentar.

Em resumo – e muito em resumo mesmo – fosse estrutural, em uma visão marxista de pensamento talvez,  o racismo seria extirpado porque não faria mais parte “da estrutura” do Estado. No fundo, acredito eu, estávamos diante de visões complementares, talvez polissêmicas ou teóricas da discussão sobre o racismo. Mas não. Divulgada a reportagem, muitos foram à loucura com os argumentos que iam de encontro ao pensamento de Silvio Almeida. Seria possível apostar que muitos dos críticos não tenham lido nem Almeida, nem Sodré. Mas Almeida já havia sido, àquela altura, elevado ao tal sacrossanto lugar de teórico de um tema que havia sido popularizado, se disseminado, e claro, se politizado nas redes sociais. Já não era mais possível criticar Silvio Almeida. Não era mais o pensamento e as ideias por ele defendidas, mas a politização exacerbada de sua figura que não permitia que mais nada se dissesse porque Almeida e suas ideias já estavam cristalizadas.

Corta para 6 de setembro. As denúncias e declarações contra Almeida pulularam nas telas e sua figura escorreu pelo ralo como água que vai sem saber aonde vai parar. Pudera, dado tudo o que vimos e ouvimos, inclusive com os relatos ouvidos em off pela coluna de Matheus Leitão, de ex-alunas do ex-ministro quando lecionava em uma faculdade de São Paulo. Um dia triste para a história, muito porque o tema dos Direitos humanos, pasta ocupada até então por Silvio de Almeida, tem sido ao longo do tempo uma temática difícil de se enfrentar socialmente.

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A lista seria longa para falar de endeusamentos que são alçados a um Olimpo imaginário, muito porque são colocados em uma categoria política que não se pode mexer. Da esquerda à direita, na política ou no meio cultural, é arriscar fazer uma crítica e você pode cair na lista dos cancelamentos eternos. Seja Lula ou Davi do BBB, Marçal ou Boulos. Tudo parece estar encoberto em um manto sagrado que não se pode tocar. Nada mais tem sido sobre ideias, mas sobre o espectro de que tudo é político e se você ousar tocar no tema está fazendo o jogo do adversário. E, sim, do adversário, porque esse outro lado, sabe-se lá o que isso signifique, tornou-se o lado do inimigo.

Uma pena porque o debate fica empobrecido. Uma pena porque ao não colocar no campo da possibilidade de se discutir determinados temas e pessoas, deixamos de colocar na berlinda aquilo ou aquele que poderiam estar sendo escrutinados. E isso tem feito falta, muita falta mesmo.

* Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Cursou História (PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribui semanalmente com esta coluna

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