Desculpe, leitor.
Mesmo que os outros candidatos tenham tido uma excelente participação – como Simone Tebet que mereceu aplausos ao dizer que presidente da República “não pegou a moto dele para entrar em um hospital e abraçar uma mãe durante a pandemia” -, a pergunta deste debate era: quem venceu? Lula ou Bolsonaro?
Na minha opinião: Bolsonaro, lamentavelmente, porque é, de fato, o pior presidente da história do país.
A conta deste debate – ao menos na visão desta coluna – fecha assim: enquanto Bolsonaro escolheu fazer uma pergunta direta a Lula sobre corrupção na Petrobras, o petista respondeu sem pontuar os escândalos no Ministério da Educação, e os roubos no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, por exemplo. Tinha até ouro sendo negociado por pastores no MEC. Ou não?
Sim, Lula disse – e com muita razão – todos os acertos do PT em criar inúmeros mecanismos de combate à corrupção, como o fortalecimento do Ministério Público, mas não contou sobre os também inúmeros ataques de Bolsonaro aos mesmos órgãos de estado, como a destruição do Coaf, que investigava o filho Zero Um do presidente por “rachadinha”.
Ou seja, o petista, em vez de contra-atacar, escolheu o caminho de lembrar os feitos do próprio governo.
Respondeu propagandeando essas realizações do passado, que realmente foram impressionantes na economia, e não atacando os muitos malfeitos do seu principal adversário.
Esse jogo também se repetiu na primeira pergunta de jornalistas. O questionamento era para Jair Bolsonaro com comentário de Lula, segundo as regras do debate na TV Bandeirantes.
O atual presidente aproveitou seu tempo para falar do Auxílio Brasil e prometer a manutenção do benefício no ano que vem. Sentenciou: “como conseguir isso? Não roubando!”
Ou seja, era Bolsonaro de volta ao ataque, sendo contundente.
Já Lula respondeu dizendo que o benefício não está na LDO (o problema é que isso não fala diretamente ao eleitor). O petista afirmou que “o candidato adora citar números absurdos que nem ele acredita”. “Já sabemos que ele vendeu a Eletrobrás, está fatiando a Petrobras”.
Foi então que atual presidente subiu o tom dizendo que se PT não votou contra o Auxílio Brasil, discursou contra. “Para de mentir. Tá no seu DNA mentir”, disse Bolsonaro olhando para o ex-presidente.
E a LDO?
Bolsonaro disse que resolve após as eleições com as lideranças da Câmara. “Não podemos ser inconsequentes, ficar anunciando vou dar isso, aquilo”.
Sim, é compreensível a estratégia de Lula e do PT: lembrar o bons anos do governo Lula. Mas isso já está na memória do eleitor, se não Lula não teria 45% nas pesquisas das intenções de voto.
Ou o PT jogou a toalha na tentativa de vencer no primeiro turno?
Se Lula queria ganhar o debate, a melhor estratégia era partir para cima e acuar Bolsonaro, tirando-o do sério.
Agora, se o petista quer se manter simpático, não se meter em confusão e depois poder dizer que o Bolsonaro mentiu o tempo todo apontando as falácias dele em outros lugares – como nas redes sociais por exemplo – está tudo certo.
Bolsonaro só errou – e pode ter perdido o voto feminino – com o ataque à Vera Magalhães e à Simone Tebet, ou ao falar de “vitimismo”. Também sentiu o feroz e certeiro gancho que Soraya Thronicke – que se elegeu na esteira do bolsonarismo, diga-se de passagem – deu ao dizer que este presidente é “tchutchuca com homens, mas ataca mulheres”.
Aliás, Soraya Thronicke ainda afirmou que “se vacinou e não virou jacaré”, lembrando um dos muitos absurdos que o atual presidente disse na pandemia – flanco que o PT e Lula podem e devem usar mais para lembrar os eleitores do grande mal cometido por este governo.
No mesmo tom, com o dedo apontado para Bolsonaro, Simone Tebet afirmou: “eu não tenho medo de você”. Depois, ainda deixou no ar o seguinte: “quem quer 100 anos de sigilo está escondendo algo”.
Resumindo: Lula teve um desempenho pálido e não demonstrou a mesma rapidez de raciocínio e capacidade de convencimento do Jornal Nacional. Precisou dos outros candidatos para mostrar as muitas fragilidades do presidente da extrema-direita.
Bolsonaro chegou preparado para falar para a sua bolha e conseguiu, perdendo a cabeça não por conta do desempenho do petista, mas por uma perguntado de uma jornalista.
Mesmo que o saldo tenha sido negativo pela questão da rejeição dele entre as mulheres, Bolsonaro chamou Lula duas vezes de ex-presidiário. “Que moral tu tem para falar de mim, ô ex-presidiário? Nenhuma moral”, disse Bolsonaro, lembrando ato falho de Lula na pandemia: “ainda bem que a natureza criou esse monstro chamado coronavírus”.
Enquanto isso, o petista – em vez de buscar vencer Bolsonaro sendo mais incisivo contra o oponente – chamou Ciro Gomes “de amigo”, já pensando em um segundo turno.
“Não vai pra Paris e fique aqui para construir a verdadeira aliança”, disse Lula, vendo o pedetista o chamar de “encantador de serpentes”.
(Aqui, faço uma pausa: Ciro faz um arriscado papel que será julgado pela História neste momento em que a democracia brasileira está em risco, mas isso esta coluna já discutiu).
O pedetista se coloca no pedestal, mas faz dobradinha do trabalhismo com o ultraliberalismo, do PDT com o Novo, dele com Felipe D’ávila para conseguir o exato feito de 2018: ser o terceiro colocado e levar a eleição para um segundo turno, que será um novo pleito. Ainda que Lula seja favorito, tudo pode acontecer.
Mas é importante dizer, leitor, que o último Datafolha mostrou Lula com 51% dos votos válidos – ou seja, ainda vencendo Bolsonaro (e todos os outros) no primeiro turno.
Sim, Lula ganhou de Ciro no embate que os dois tiveram, mas não está claro que ele conquistou o eleitor cirista. Ao menos, por enquanto.
Então, de que adianta?
É preciso vencer Bolsonaro! E logo. Rápido.
Sem jogo em dois tempos.