Que triste Brasil é este que expurga da disputa presidencial um nome que realizou um bom governo em São Paulo, que resolveu a questão da vacina na pior pandemia em 100 anos e ajudou na recuperação econômica do país após um estado de guerra?
João Doria sai da disputa e deve distanciar-se um pouco da política, segundo informado à coluna.
Fica o PSDB, um partido que rasgou o compromisso com a democracia feito por nomes como Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro e Mário Covas, ao não respeitar as próprias prévias partidárias. E democráticas, diga-se de passagem.
Desde a semana passada a situação vinha se agravando para Doria.
Conto os bastidores abaixo:
Na reunião com a Executiva do PSDB, todos os pré-candidatos aos governos do Estado pelo partido, Pedro Cunha Lima, da Paraíba, Raquel Lyra, de Pernambuco, e Eduardo Riedel, de Mato Grosso do Sul, fizeram um apelo para Joao Doria não ser candidato à presidência.
Nessa mesma reunião, segundo apurou a coluna, parlamentares de São Paulo disseram que não queriam continuar com Doria à frente da candidatura. Até mesmo os paulistas.
Você, leitor, pode se perguntar: mas com tantos políticos do próprio partido contra, por que continuar?
Primeiramente, esses políticos estavam ali, numa reunião em que Doria não participou, fazendo cena interna para gerar o que aconteceu hoje: a desistência do ex-governador de São Paulo. Naquele momento, estavam dando essas declarações a mando de Bruno Araújo, e de seus aliados internos, como Aécio Neves e Eduardo Leite.
Bruno Araújo, aliás, quase não falou esse dia da reunião da Executiva Nacional. Ficou em silêncio, mas era tudo combinado para depois ele dizer para a imprensa, nos bastidores, que não era uma questão só dele, a de querer impedir João Doria de continuar.
O PSDB, em sua tradição democrática, já construiu outras candidaturas que não tinham todo apoio interno, como a de José Serra, em 2002 e até em 2010 ou de Geraldo Alckmin, em 2018.
Mesmo assim, seguiram em frente.
Sim, perderam a eleição – mas mantiveram-se como forte oposição e com os valores que o levaram a dirigir os destinos do país em um passado agora distante.
A rejeição política de João Doria deveria ter sido resolvida internamente, com diálogo e acertos estaduais, como sempre se fez no Brasil, incluindo entre os tucanos.
Sim, partidos são partes, fato, e não um consenso – se não, não chamaria partido. Mas se há uma legenda mais dividida que o PSDB no mundo, desconheço.
Era preciso que políticos com valores, como esses que um dia lideraram o partido, lutassem e trabalhassem para manter a candidatura do ex-governador de São Paulo.
E era também não só a melhor decisão, mas a decisão correta.
Nesta segunda-feira, 23, ao empurrarem João Doria – o pai da vacina contra a Covid-19 – para fora da disputa, acabam por dar o maior tiro no pé em sua história política. Podem me cobrar um dia por esta frase.
O PSDB liberará alguns estados a seguirem seu próprio caminho – nesses lugares, alguns deles – seus candidatos apoiarão Jair Bolsonaro (vejam que vergonha). Em outras, manterão a aliança, que deverá ser feita principalmente com o MDB, de Simone Tebet – se não houver novas traições tucanas.
Todo esse imbroglio foi organizado por Bruno Araújo, que é quem, como presidente do PSDB, ficará lembrado por ter rasgado não só o estatuto do partido, mas o compromisso histórico da legenda com a democracia.
Se fosse por medo de ter poucos votos com uma candidatura de João Doria, nada pode ser pior que o fiasco de Geraldo Alckmin em 2018, que teve apenas 4 milhões de eleitores apoiando o projeto tucano.
O Brasil continua polarizado, como naquela época, mas Doria teria mais votos. E faria melhor para a campanha de 2022 que esse novo acerto do PSDB – o partido que agora não é só posto como coadjuvante na política pelos eleitores, mas também por escolha própria de buscar a uma pequenez sem tamanho.