O Acre enfrenta três crises simultâneas: as enchentes, a pandemia da Covid-19 e o surto de dengue. Os alagamentos atingiram cerca de 120 mil pessoas. A ocupação dos leitos de UTI da rede pública alcançou 96,2% na última sexta-feira, 26. Na capital Rio Branco foram notificados 4.109 casos suspeitos de dengue nas seis primeiras semanas de 2021 (no mesmo período, em 2020, foram 541 casos suspeitos). Além da tríplice crise, os acreanos lidam com a delicada questão da imigração: cerca de 500 imigrantes estão abrigados em escolas conforme dados da Secretaria Estadual de Assistência Social, Direitos Humanos e Políticas para Mulheres.
O governo federal esboçou alguma ação, mas ficou aquém das expectativas. A procuradora de Rio Branco Raquel Eline afirmou: “registro a gratidão pela mobilização social em todo o país para mandar ajuda e recursos para o Acre em contraste com as tímidas medidas anunciadas pelo Presidente em sua visita na última quarta-feira: entrega de 21 mil doses de vacina (que é o suficiente pra imunizar 10.500 pessoas, numa população de mais de 800 mil habitantes) e recursos no valor de R$800 mil”.
Estados da região Norte do Brasil estão particularmente desorientados nestes meses pandêmicos. O Amapá enfrentou um dos maiores apagões da história; o Amazonas luta com o colapso do sistema de saúde e a dramática falta de cilindros de oxigênio nos hospitais. Agora, após as cheias dos rios, o Acre sofre esse conjunto de catástrofes. Em todos os casos, mobilizações extraoficiais foram decisivas para mitigar o sofrimento das pessoas. A gravidade da crise exige que as fontes de assistência social e humanitária atuem rápido. O Ministério Público do Estado do Acre criou a campanha “S.O.S. Acre” e arrecadou mais de 600 mil reais em uma semana. O programa de voluntariado Transforma Brasil arrecadou 80 mil reais em dois dias em campanha similar. Outras agências humanitárias como a Visão Mundial dão atenção especial à situação de crianças e adolescentes. Desse modo, algum alívio imediato chega ao povo do Acre. As maiores necessidades são colchões, mantimentos e itens de primeira necessidade para famílias desabrigadas, e equipamento de proteção individual para equipes de socorristas.
A pronta mobilização da sociedade civil oblitera as vozes de desesperança. A vida e a história se escrevem para frente. Como disse o poeta acreano Océlio de Medeiros: “Águas rolando são a nossa vida/que é como um rio correndo noite e dia/e nunca volta ao ponto de partida”.
* Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo