‘Saio mais fortalecida’, diz prefeita eleita vítima de ataques na internet
Suéllen Rosim, prefeita eleita de Bauru (SP), foi atacada por ser negra e pela escolha religiosa
A vitória conquistada no segundo turno das eleições não foi marcada apenas por comemorações na vida de Suéllen Rosim (Patriota). A jornalista e futura prefeita de Bauru (SP), que venceu a disputa com 55,98% dos votos contra 44,02% obtidos por Raul Gonçalves (DEM), tem sido alvo de ataques na internet por ser negra e evangélica.
Por e-mail, Suéllen foi chamada de “macaca fedorenta” e ameaçada de morte por um suposto morador do Rio de Janeiro. “Eu juro, mas eu juro que vou comprar uma pistola 9 mm no Morro do Engenho, aqui no Rio de Janeiro, e uma passagem só de ida para Bauru e vou te matar”, escreveu o remetente.
Nas redes sociais, mais ataques. Na divulgação de uma reportagem da Folha de S.Paulo sobre o perfil da prefeita eleita, usuários chamam Suéllen de “chaveirinho de hétero branco” e “jovem negra escravocrata”. Uma usuária se diz, inclusive, decepcionada pela escolha religiosa de Suéllen. “Decepção ao ler evangélica e conservadora”, escreveu.
Em conversa com a coluna sobre as ameaças que recebeu, Suéllen diz que sente um misto de indignação e vontade de continuar seguindo. A prefeita eleita enfatiza que sai fortalecida da situação.
“Apenas encorajo outras pessoas a não se silenciaram mesmo com relação ao racismo ou a qualquer outro tipo de discriminação. A gente não pode passar panos em cima, a gente não pode se sentir menor por conta disso. Pelo contrário. Saio dessa situação mais fortalecida diante do apoio que eu tenho recebido e quero que as pessoas também sejam encorajadas a denunciar quando for necessário, e a entender que ninguém pode medir a minha capacidade pela minha cor”, afirma.
Suéllen explica que não teve problemas no decorrer da campanha e que as primeiras mensagens ofensivas foram recebidas na véspera da disputa. “A campanha transcorreu muito bem. Não tive problemas pontuais de racismo ou esse tipo de comentário durante a campanha”.
Depois de vencer a eleição, a jornalista conta que viu um comentário racista no Facebook que, espantosamente, veio de um usuário que também é negro.
“O primeiro ataque foi por meio de um grupo de WhatsApp, no sábado, um dia antes do pleito, do domingo. Tive um primeiro no sábado. Depois, na segunda-feira teve outro comentário no Facebook. Essa pessoa foi identificada hoje pela polícia. É um funcionário público, inclusive é negro, apesar de tudo”, relata.
Outros comentários ofensivos foram publicados no Instagram. Nessa rede, os questionamentos foram em relação à sua capacidade de administrar, já que é negra.
“Primeiro você se sente um pouco indignada porque você não espera em nenhum momento ser atacada de forma tão pesada, com essa comparação da cor da pele à minha capacidade. A gente está num mundo que se prega tanto a igualdade, que se prega tanto o respeito ao próximo, então a gente se assusta, ainda mais quando vem de alguém que deve ter passado pelos mesmos desafios com relação à cor. Então é uma mistura de indignação, mas ao mesmo tempo também com muita coragem de continuar seguindo, de continuar representando, de denunciar o racismo sim, de se colocar na linha de frente, de querer representar outras pessoas”, enfatiza Suéllen.
A futura prefeita de Bauru denunciou as ofensas que recebeu e defende que todas as vítimas de racismo ou de qualquer outro tipo de discriminação denunciem o caso à polícia. Para ela, a internet abre espaço para esse tipo de ofensa.
“Se isso fosse tratado com mais clareza, talvez não chegasse ao ponto das palavras que eu tenho ouvido nos últimos dias, lido, na verdade. E a rede social acabou propagando mais isso, nos dando condição até mesmo de filtrar. Falo rede social, a internet, a tecnologia acabou potencializando as pessoas boas e dando voz àquelas que não são boas, infelizmente”, afirma.