Todo mundo quer um general para chamar de seu
A ida de Ajax Pinheiro para a assessoria do novo presidente do STJ é parte do movimento que espalhou oficiais por áreas da administração direta e indireta
Nos dois anos antes das eleições de 2018 a imagem das Forças Armadas chegou à aprovação recorde. Era o trabalho das décadas anteriores, após a ditadura (1964-1985), quando os militares se concentraram em seu trabalho constitucional. Nessa onda surfou o então candidato Jair Bolsonaro, apesar de ter saído do Exército há mais de três décadas e pela porta dos fundos. A partir da eleição, o presidente tem tentado puxar os militares para cargos políticos. E isso detonou uma onda oportunista em vários setores para nomear oficiais como assessores.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu à moda rapidamente. Primeiro disse que o golpe de 1964 não era o que sempre será, mas apenas um “movimento”. Em seguida, colocou o general Fernando Azevedo e Silva como um dos seus principais assessores na corte, o militar que fazia a ponte entre os poderes executivo, judiciário e a caserna.
Fernando Azevedo seguiu seu caminho e virou o ministro da Defesa, posto que comanda as três forças militares. Toffoli não se fez de rogado e logo convidou outro general, Ajax Porto Pinheiro, para ser seu novo assessor especial na corte. Como deixa o posto de presidente do STF no próximo dia 10, mais um magistrado de uma alta corte quis um general para chamar de seu.
Como informou o Radar, o ministro Humberto Martins, novo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), levou para o gabinete da Secretaria-Geral do tribunal, órgão diretamente ligado ao gabinete da presidência, o mesmo general Ajax Pinheiro, agora já experiente assessor em tribunais. Será, segundo a coluna, a ponte entre a corte, o governo e os militares.
Desde o regime militar, não se via tanto assédio nos generais para postos espelhados pela Esplanada dos Ministérios. Oficiais menos estrelados também têm se espalhado em inúmeros órgãos públicos, ocupando todo o comando dos Correios, por exemplo, e os conselhos de administração das estatais. Além do vice Mourão, o presidente tem o general Braga Netto na Casa Civil; o general Augusto Heleno no Gabinete de Segurança Institucional (GSI); e o general Luiz Eduardo Ramos, na Secretaria de Governo. Isso só no Palácio do Planalto.
Outro general – Eduardo Pazuello – está interinamente no Ministério da Saúde há 107 dias – durante a maior pandemia dos últimos 100 anos. No início, era apenas um tapa buraco após dois médicos serem retirados da pasta por Jair Bolsonaro. Mas ficou. E é o ministro da Saúde. Com o passar do tempo, os generais ocuparam importantes espaços dos três poderes brasileiros. É o tempo deles. De novo.