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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Valeixo mostra que o presidente faz confusão entre estado e governo

A pergunta que permanece é o que Bolsonaro gostaria de pedir a um delegado com quem tivesse “maior afinidade”, mas que não poderia dizer ao ex-diretor-geral

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 Maio 2020, 23h24 - Publicado em 11 Maio 2020, 21h19
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  • Um dos delegados mais respeitados da história da Polícia Federal, Maurício Valeixo confirmou, em seu depoimento nesta segunda-feira (11), que o presidente Jair Bolsonaro parece não saber a diferença entre um órgão de estado e um órgão de governo.

    Esse é o ponto mais importante explicado pelo delegado no interrogatório, agora anexado na investigação das denúncias de tentativa de interferência política feitas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro contra o presidente. A confusão entre estado e o governo é exatamente o que faz Bolsonaro achar que pode interferir na PF.

    Ao dizer que o presidente reiterou, pessoalmente e ao telefone, que precisava de alguém com “maior afinidade” na direção-geral do órgão, Valeixo na verdade revela o principal incômodo de um delegado de carreira: a de que uma polícia política, usada em regimes de exceção, possa encontrar caminhos para voltar a existir no Brasil.

    A nova geração de delegados da Polícia Federal, da qual Maurício Valeixo faz parte, se orgulha de não ter feito parte do órgão que perseguiu opositores políticos da ditadura militar (1964-1985), algo que gostam de reiterar em conversas reservadas. Valeixo faz parte desta geração. Ele entrou na PF em 1996, 11 anos após o fim do regime.

    Para o Palácio do Planalto, o ponto sensível do depoimento do ex-diretor-geral da PF foi o de que ele reforçou, seguindo a linha de Sérgio Moro, que as trocas na superintendência da corporação no Rio e no próprio posto máximo do órgão em Brasília não seguiriam as padrões internos do órgão, sempre técnicos e isentos de interferência do governo de ocasião.

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    Mas o depoimento também teve momentos que podem ser usados na defesa do presidente. Ainda que tenha ficado clara a tentativa de interferir em um dos órgãos mais respeitados pela população brasileira, popularidade que ganhou contornos ainda mais robustos na Lava Jato, da qual Moro e Valeixo são estrelas de primeira grandeza, o delegado mostrou que isso não se concretizou em sua gestão.

    “Para o depoente [Valeixo], a partir do momento em que há uma indicação com interesse sobre uma investigação específica, estaria caracteriza uma interferência política, o que não ocorreu em nenhum momento sob o ponto de vista do depoente”, afirma Valeixo no depoimento, como mostrou o Radar. Mas pode não ter havido a interferência exatamente porque o ex-ministro Moro a impediu. 

    Mesmo que, neste aspecto, o teor do interrogatório do ex-diretor-geral possa ajudar, em tese, o presidente, delegados ouvidos pela coluna afirmaram que isso não exime o político da sua intenção pouco republicana com uma mudança na alta cúpula da corporação. E que, ainda que não tenha se concretizado, pode gerar problemas jurídicos ao presidente.

    A discussão sobre o princípio constitucional da impessoalidade, portanto, permanece viva no inquérito. E o ponto chave também: a motivação. O que o presidente poderia falar ou até pedir para um delegado com quem tem “maior afinidade” e que não poderia dizer para Maurício Valeixo?, perguntam os policiais do órgão.

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