Invadir o sistema oficial da Justiça brasileira e “expedir” um mandado de prisão falso contra um ministro do Supremo — e presidente do Tribunal Superior Eleitoral — é um ato totalmente degradante e que atenta contra a ordem constitucional.
Agora, muito mais grave, é fazer isso com a ajuda de uma parlamentar — uma deputada federal.
Isso sim é um sinal ainda mais preocupante porque indica que nem mesmo autoridades constituídas pelo sufrágio popular têm a compreensão dos valores republicanos.
Hoje, a Polícia Federal saiu às ruas contra um hacker e a sua protetora e contratante de seus serviços ilegais, a deputada Carla Zambelli. Na verdade, o que acontece nesta quarta, 2, no Brasil, é a reação a esse e outros abusos.
Uma operação para investigar como Walter Delgatti Neto, o conhecido hacker da Vaza-Jato, invadiu os sistemas do Conselho Nacional de Justiça e do banco nacional de mandados de prisão para incluir a falsa determinação de prisão de Alexandre de Moraes.
As investigações apontam para a insultuosa ajuda da bolsonarista Carla Zambelli — a parlamentar mais fiel do líder da extrema direita brasileira –, que teria autorizado depósitos de mais de R$ 13 mil nas contas do hacker, financiando a ação criminosa.
O texto do falso mandado de prisão contra Alexandre de Moraes — repita-se, implantado no sistema oficial da Justiça brasileira — trata de forma jocosa o assunto. É como se fosse uma autodeterminação do ministro Alexandre de Moraes para encarcerar a si mesmo. Tem a seguinte redação: “Expeça-se o mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faz o L”.
Seria cômico, mas na verdade é atestado de degradação institucional. O triste é que já não nos espantamos. O país tem normalizado ataques contra a Constituição e a ordem democrática, que custaram muito a tantos brasileiros.