Novo presidente da OAB não aparece em foto ao lado de Cesare Battisti
Rostos de Felipe Santa Cruz e do homem que aparece na imagem são diferentes. Santa Cruz também não estava em Brasília, mas no Rio, quando a foto foi clicada
A famosa foto de parlamentares de PT e PSOL em torno do ex-militante italiano Cesare Battisti, registrada em 2009, tem sido compartilhada nas redes sociais para associar falsamente à esquerda o novo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o advogado Felipe Santa Cruz, eleito para o cargo no início de fevereiro. O boato afirma que Santa Cruz aparece na imagem.
“O presidente da OAB – de camiseta preta atrás – em apoio ao terrorista Battisti! Qual é mesmo o papel da OAB?”, diz a legenda da foto, incluída em outra postagem no Facebook, que classifica Santa Cruz como “militante petista, defensor do terrorista Battisti” e diz que ele “provavelmente, tenha em sua sala de estar uma foto gigantesca de Lula”.
A imagem que mostra senadores e deputados em solidariedade a Cesare Battisti foi feita no dia 17 de novembro de 2009 em um auditório do presídio da Papuda, em Brasília, onde o italiano estava preso e fazia greve de fome. No dia seguinte, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a extradição dele, pedida pela Itália, decisão que não acabou não sendo seguida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que em dezembro de 2010 concedeu refúgio a Cesare Battisti. O italiano só voltou ao país europeu em meados de janeiro de 2019, após fugir do Brasil e ter sido preso na Bolívia.
Felipe Santa Cruz não é o sujeito de camiseta preta atrás de Battisti na foto, não identificado. O primeiro elemento a levar a essa conclusão é que, embora haja alguma semelhança, os rostos dos dois são diferentes:
Além do mais, no dia 17 de novembro de 2009, quando a foto foi clicada, Santa Cruz não estava em Brasília, mas no Rio de Janeiro. Exatamente nessa data, ele participou da eleição para a presidência da OAB-RJ, que terminou com a reeleição de Wadih Damous, ex-deputado pelo PT, para a chefiar o órgão no estado. Santa Cruz, naquela ocasião, foi eleito para presidir a Caixa de Assistência dos Advogados do Rio de Janeiro (Caarj), cargo no qual ficou até ser eleito para suceder Damous, em 2012. Ele comandou a seção fluminense da OAB entre 2013 e 2018.
Diante do boato divulgado nos últimos dias, a OAB publicou um desmentido em sua página no Facebook, deixando claro que não é Felipe Santa Cruz na foto. “É importante reiterar que o compartilhamento de notícia falsa pode ocasionar sanções penais aos responsáveis pela propagação das mentiras, cabendo, inclusive, a obrigação de indenizar as vítimas da difamação”, adverte o órgão.
‘Trincheira comunista”
Outro boato envolvendo Felipe Santa Cruz, compartilhado no WhatsApp por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, afirma que a eleição dele representa a construção de uma “trincheira comunista” na OAB, “arquitetada pelo [ex-ministro] Zé Dirceu para atribuir um ar de ‘legalidade’ na guerra contra o governo”.
O texto afirma ainda que o pai de Santa Cruz “foi guerrilheiro junto com a Dilma… Ele odeia o Presidente Bolsonaro, já tiveram vários embates”.
De fato, o pai do presidente da OAB, Fernando Santa Cruz, militou em organizações de esquerda durante a ditadura militar e desapareceu em março de 1974. Em função deste histórico, Felipe Santa Cruz teve embates públicos com Bolsonaro, que semeiam agora a paranoia a respeito de “trincheira comunista” e “guerrilha” contra o governo na OAB.
Em 2011, o então deputado federal disse em um evento da Universidade Federal Fluminense (UFF) que o pai de Santa Cruz “deve ter morrido bêbado em algum acidente de carnaval”. No livro Memória de uma Guerra Suja, o ex-delegado do Dops Cláudio Guerra afirma que o corpo de Fernando Santa Cruz foi queimado na Usina de Açúcar e Álcool Cambahyba, no município de Campos (RJ).
Em 2016, já na presidência da OAB do Rio de Janeiro, Felipe Santa Cruz pediu ao STF a cassação do mandato de deputado de Bolsonaro por ele ter homenageado o coronel e ex-chefe do DOI-Codi de São Paulo Carlos Brilhante Ustra, notório torturador, em seu voto na sessão da Câmara que analisou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
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