Com uma discografia marcada pela leitura de poemas, dentro de uma canção ou entre uma faixa e outra de um álbum, a cantora Maria Bethânia planeja agora um disco só de poesia. O repertório será do poeta que, ao lado de Manoel de Barros, é o seu favorito. E o que, nas próprias palavras, “sustenta” a sua “respiração”: Fernando Pessoa.
A baiana fez a mesa mais pop da Flip até aqui na noite desta sexta-feira, um recital de poemas de Pessoa ao lado de uma das maiores especialistas na obra do autor português, a carioca Cleonice Berardinelli, 96, professora emérita da UFRJ e da PUC-Rio — e a convidada de maior idade a pisar no palco da Tenda dos Autores até aqui.
“Dona Cleo”, como é chamada, também deve participar do disco. “É claro”, ela contou ter dito, sem titubear, ao convite da amiga de longa data Bethânia. “Somos duas mulheres com paixões complementares e paralelas, a música e, mais no meu caso, a poesia”, disse, no início da mesa, pouco depois de ser aplaudida de pé por uma Tenda dos Autores completamente lotada, ao entrar no palco.
A cantora, que contou do plano do disco ao responder a uma pergunta da plateia, no final da mesa, só não contou se tentará financiamento público para o projeto. Há dois anos, ela esteve envolvida em uma grande controvérsia por pedir mais de 1 milhão de reais para fazer um blog de leituras de textos de Pessoa.
Em tempo — A mesa de Maria Bethânia e Cleonice Berardinelli começou atrasada porque a cantora implicou com algumas coisas antes do início das leituras de poemas. Reclamou da iluminação e do ar-condicionado e pediu para fazer teste de som, ao microfone, enquanto uma multidão se avolumava do lado de fora da Tenda dos Autores, de pé, esperando para entrar.