Foi um namoro longo, mas enfim deu em casamento. A Penguin, editora britânica que pertence ao grupo Pearson, um gigante da área de educação, é agora dona de 45% da Companhia das Letras. Com a operação, um passo avançado em relação à parceria firmada pelas duas editoras para a edição de clássicos em setembro de 2009, a Companhia das Letras deve ampliar seus investimentos em digitalização de livros, com know-how da Penguin, e na área educacional, o forte da Pearson. Também se espera um número maior de traduções de brasileiros no exterior, embora esta não seja uma condição do contrato. A Penguin está presente em mais de dez países.
“Já temos posição na China e na Índia, só faltava o Brasil”, disse John Makinson, presidente mundial da Penguin, elencando mercados emergentes aos jornalistas reunidos pela Companhia das Letras em São Paulo, na manhã desta segunda-feira, para o anúncio da operação. “Na minha opinião, o Brasil é um dos mercados mais interessantes e modernos hoje. Acho que podemos aprender com o país a aproveitar oportunidades. Vamos também ajudar a Companhia das Letras a migrar para a área digital.”
Com as mudanças, acionistas menores deixaram de possuir participação na editora e, além de uma compensação financeira equivalente às ações que detinham, passam a figurar como executivos da nova empresa. Embora sigam, de modo geral, com as mesmas funções de antes. É o caso da editora Maria Emília Bender, que era sócia, com um pequeno número de ações, e agora será diretora operacional da área editorial da nova Companhia das Letras.
O fundador e diretor da editora, Luiz Schwarcz, e sua mulher, a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, continuam com o mesmo percentual acionário que detinham antes, por volta de 38% da Companhia das Letras. O restante deve ficar com Fernando Moreira Salles, que segue sócio. A família Moreira Salles dividirá com a família Schwarcz a holding a ser criada para a junção com a Penguin, ainda sem nome. Juntas, elas terão 55% — e o controle da editora. Os valores da operação não foram divulgados.
Uma vez por ano, um conselho formado por Luiz, Lilia, Fernando Moreira Salles e John Makinson, além do diretor-executivo financeiro mundial da Penguin, Coram Williams, se reunirá para discutir os rumos da empresa. Que, a princípio, segue se chamando Companhia das Letras.
Namoro longo – De acordo com o fundador e diretor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, a proposta de casamento foi feita pela Penguin na Flip de 2010. Mas só em janeiro deste ano ele passou a considerar seriamente a junção. “Nós já havíamos recebido diversas propostas de editoras estrangeiras, mas desta vez balançamos mesmo”, contou, após a coletiva, fazendo referência às investidas da Alfaguara e da Leya.
Entre os pontos que fizeram Schwarcz balançar, estava a possibilidade de negócios na área educacional, que surgirá com a junção. Negócios que extrapolam os livros. Segundo a antropóloga Lilia Schwarcz, que será responsável pela área educacional da nova Companhia das Letras, a editora deve produzir, por exemplo, cursos digitais. “No futuro, poderemos vender e-books e cursos digitais juntos.”
Criada em 1935 na Inglaterra, a Penguin pertence desde 1970 ao grupo Pearson, presente em mais de sessenta países com iniciativas como a Biblioteca Virtual Universitária, que oferece acesso a livros e estudos a 2 milhões de estudantes. No Brasil, onde desembarca agora, deve passar a contar com títulos da Companhia das Letras, entre ensaios e literatura. A Pearson também tem know-how em imprensa: é dona do jornal Financial Times e detém 50% da revista The Economist.
Desde o início da parceria entre Companhia das Letras e Penguin para a edição de livros clássicos, há pouco mais de dois anos, foram lançados no país 34 títulos, que tiveram juntos 80.000 exemplares vendidos. Lá fora, a Penguin lançou uma edição de Os Sertões, de Euclides da Cunha, e se prepara para lançar a obra de Jorge Amado, cujo centenário de nascimento é comemorado em 2012. Sozinha, a Companhia das Letras, que em 2011 completa 25 anos, contabiliza 3.500 títulos lançados, num total de 1.500 autores e 53 milhões de exemplares comercializados.