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Flip 2017 sai do centro para acompanhar os novos tempos – e crise

Com convidados pouco conhecidos, mais autoras mulheres, mais negros e orçamento apertado, a Festa Literária de Paraty se recicla com temáticas atuais

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h24 - Publicado em 26 jul 2017, 09h53
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  • A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) dá início, nesta quarta-feira, à sua 15ª edição, que vai até domingo, dia 30. Com orçamento 30% menor que o do ano anterior, o evento se adaptou ao momento de crise de forma estrutural e abraçou temáticas que andam aquecidas, como o racismo e o feminismo, deixando o centro para olhar para a periferia — ou para a margem, onde estão as minorias.

    Se em 2016 a Flip foi alvo de pedras por ter um time de convidados predominantemente branco e masculino, algo como o ministério do governo Temer, neste ano a festa tem 30% mais convidados negros. O mesmo aconteceu com as autoras, que estarão pela primeira vez em maior número, no total de 46 participantes.

    As “cotas”, contudo, serviram não para atolar o evento de tapa-buracos. Pelo contrário: a principal mesa da festa, que acontece na noite de sábado sob o título “O Grande Romance Americano”, contará com os excelentes Marlon James e Paul Beatty, dupla que levou o prêmio Man Booker Prize em 2015 e 2016, respectivamente. Ambos estreiam agora no Brasil, com seus romances premiados: James com Breve História de Sete Assassinatos (Intrínseca) e Beatty com O Vendido (Todavia), livro que fala de racismo de uma forma que pode ser tudo, menos fácil e panfletária.

    Os dois escritores, pouco conhecidos no Brasil, e o ator Lázaro Ramos são, sob a cruel lupa das celebridades, os nomes mais famosos da Flip 2017. Outro reflexo da crise: nenhuma estrela se destaca neste ano. Mas algumas apostas podem cair no gosto nacional. Caso da dupla citada; do americano William Finnegan, que assina a autobiografia Dias Bárbaros (Intrínseca); da sul-africana radicada em Londres Deborah Levy, com seu comovente relato do Apartheid em Coisas que Não Quero Saber (Autêntica); e a chilena Diamela Eltit que, com mais de trinta anos de carreira na literatura, tem seu primeiro lançamento no Brasil com o intrigante Jamais o Fogo Nunca (Relicário).

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    Já a mudança de estrutura será sentida por quem vai à cidade fluminense. A Tenda dos Autores, espaço que antes recebia as mesas de debate, com capacidade para 750 pessoas, foi substituída pela Igreja Matriz, que oferece 450 cadeiras. Em compensação, o espaço externo com telão terá 700 lugares contra 200 no ano anterior.

    Em tempos difíceis e de transformação, ter Lima Barreto como autor homenageado parece perfeito. Autor carioca negro, que usou o subúrbio do Rio como cenário para análises políticas e sociais e morreu prematuramente, aos 41 anos, tem sua vida e obra revistas com o evento.

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