Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Imagem Blog

VEJA Meus Livros

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Um presente para quem ama os livros, e não sai da internet.
Continua após publicidade

William Wilson, 198, e o duplo na literatura

.

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jun 2024, 19h18 - Publicado em 19 jan 2011, 00h27

edgard-allan-poe-duplo

Nesta quarta, 19 de janeiro, William Wilson completaria 198 anos. Aliás, William Wilson e seu sósia de mesmo nome, que como ele é personagem e batiza o conto de Edgard Allan Poe sobre a experiência fantástica de se ver refletido em outra pessoa. Apropriado, esmiuçado e reinventado em teses acadêmicas e em textos de romancistas do porte do russo Fiódor Dostoiévski e do argentino Ricardo Piglia, William Wilson (1839), o conto, é considerado um dos textos mais importantes sobre a figura do duplo na literatura.

“Mas, decerto, se fôssemos irmãos, teríamos sido gêmeos: pouco depois de ter deixado a escola do Doutor Bransby soube, por acaso, que o meu homônimo nascera em 19 de janeiro de 1813 – coincidência bastante notável, sendo esse dia, precisamente, o do meu nascimento”, escreve o narrador de William Wilson, enquanto lembra que conheceu seu sósia ainda criança, na escola, e que a partir daí seria copiado e perseguido por ele.

“Wilson dava-me a réplica com uma perfeita imitação de mim mesmo – gestos e palavras – e representava admiravelmente o seu papel. Meu traje era coisa fácil de copiar, meu andar, minha atitude geral, ele fizera seus sem dificuldade e, a despeito de seu defeito constitutivo, nem mesmo minha voz lhe tinha escapado”, continua o narrador, que revela, em seguida, não ter sido imitado pelo sósia em todos os detalhes. O duplo teria um tom de voz e posturas éticas diferentes das suas, não sentiria prazer em dominar ou trapacear – e poderia, dependendo da leitura, ser entendido como o complemento ou a consciência do narrador.

Continua após a publicidade

O narrador, aliás, não dá ao leitor o seu verdadeiro nome, que seria também o de seu duplo, por vergonha da história que está contando. Em vez disso, numa brincadeira de Poe, ele adota um pseudônimo que é formado por dois anagramas dotados de significados: William pode ser Will i am (Serei eu?, em português) e Wilson, Wil’ son (Filho de Wil, também em tradução livro).

Explorado de diversas maneiras, com personagens semelhantes, idênticos ou proporcionalmente inversos um ao outro, o tema do duplo tem longa trajetória na literatura. Datado de 1839, William Wilson, o conto, não é o primeiro a abordar o tema do duplo, que, de acordo com Freud, nos acompanha desde os primórdios da psique humana. Ele seria a parte de nós mesmos que estranhamos e relutamos a reconhecer.

Seus primeiros registros, de fato, remetem à antiguidade, ao mito em que Zeus toma a forma de Anfitrião para se deitar com a esposa do grego, argumento retomado no século XVII por Molière, na peça Amphitryon, e aos gêmeos bíblicos Esaú e Jacó, iguais mas diferentes, recriados por Machado de Assis no século XVIII. O próprio William Wilson chegou aos leitores depois de O Elixir do Diabo, texto do alemão E. T. A. Hoffmann de 1815, e antes de O Duplo, de Dostoiévski, de 1846, e da clássica Comédia dos Erros, de Shakespeare, de fins do século XVI.

Continua após a publicidade

O argentino Ricardo Piglia, que retomou William Wilson no romance A Cidade Ausente, onde o conto é recriado por uma máquina fazedora de textos como Stephen Stevensen, considera o alter-ego Emilio Renzi o seu duplo literário. “Ele tem semelhanças comigo, mas, principalmente, vive uma vida paralela, que eu não pude viver”, diz, lembrando que o papel do duplo, além de ampliar a leitura de quem se depara com uma obra literária, é o de enlarguecer a experiência do autor.

A vida que Piglia vive através de Renzi vai ser, aliás, experimentada em detalhes. Está nos planos do escritor argentino uma biografia para o personagem – leia mais aqui.

Maria Carolina Maia

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.