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Biden, um presidente reeleito aos 82 anos? Americanos não querem isso

Num ambiente econômico nada bom, a idade do presidente virou um ônus adicional e democratas reconhecem isso

Por Vilma Gryzinski 17 jun 2022, 08h59
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  • Está custando mais de cem dólares encher o tanque de dez dos carros testados pela Consumer Report. E Joe Biden fará 80 anos em novembro. Se conseguir a reeleição, como disse que quer tentar, terá 82 ao assumir o segundo mandato e 86 ao final dele.

    Os dois dados estão intimamente relacionados. Um presidente idoso no comando de uma economia que vai bem é saudado como um sábio estadista. Com a gasolina cara, o mais doloroso sinal da inflação de quase 9% e de um crescimento econômico que pode encolher até virar recessão, ele é um velho que perdeu o controle.

    Soa como preconceito por idade, mas é a crua realidade da política. 

    “A questão da idade só vai ficar pior se Biden concorrer de novo. Os ‘murmúrios’ estão virando gritos”, escreveu Mark Leibovich na Atlantic, um dos vários veículos de comunicação alinhadíssimos com os democratas que estão, o mais delicadamente possível, nas circunstâncias, dizendo que Biden já era.

    “Parece falta de educação apontar isso – desrespeitoso, preconceituoso e tabu”, amaciou o articulista. Ele também enumerou o problemas de saúde conhecidos do presidente, bastante moderados para um homem de 79 anos: toma remédio para colesterol alto e um anticoagulante, tem artrite espinhal, condição dolorosa à qual é atribuído o caminhar um pouco rígido, sofre episódios de refluxo e já fez cirurgia para próstata aumentada.

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    Mais complicados são o discurso tortuoso e torturante, as falhas de memória, as batalhas com o teleprompter, os improvisos que criam problemas para si mesmo (imaginem um presidente que fala sem pensar nas consequências…).  

    Até seus assessores de imprensa ficam com o coração na boca quando o presidente fala a jornalistas. Alguns não suportam nem olhar para as telas de televisão. Já tentaram controlar as besteiras em série colocando-o num estúdio que simula o ambiente da Casa Branca, com uma reprodução digital do roseiral, a parte mais conhecida do jardim, entrevista através de uma janela cenográfica. Foram amplamente ridicularizados.

    A “questão da idade” foi jogada para o primeiro plano da política por uma reportagem recente do New York Times – o Times! – que ouviu nada menos que cinquenta fontes do Partido Democrata, incluindo congressistas. Alguns falaram em on.

    “Dizer que nosso país está no rumo certo seria uma flagrante desconexão da realidade”, amargurou-se Steve Simeonidis, membro do Comitê Democrata, o órgão dirigente do partido. Ele acha que Biden deveria se colocar fora da campanha de 2024 imediatamente depois das eleições legislativas de novembro – uma catástrofe amplamente anunciada que pode levar à perda da maioria na Câmara e a um bando de republicanos com sede de vingança.

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    David Axelrod, um dos magos da eleição de Barack Obama, também teve palavras duras. “Ser presidente é um trabalho monstruosamente exigente e o presidente estaria mais próximo dos 90 anos do que dos 80 ao fim de seu segundo mandato. Isso seria uma questão e tanto”.

    Axelrod credita os problemas atuais a mais uma questão de performance do que a resultados. Biden “parece a idade que tem e não é mais tão ágil diante das câmaras como era”.

    Analistas menos comprometidos acham que ambos os aspectos pesam contra Biden: ele se sai mal na encenação e tem resultados ruins a apresentar.

    Muitos, obviamente, não são de sua lavra. Algo injustamente, quando a bolsa sobe, muitos dizem que o presidente – seja quem for – não tem nada a ver com isso. Quando cai, ah, é essa porcaria de política econômica.

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    O preço da gasolina tem uma dupla “culpa”: as circunstâncias internacionais, incluindo uma guerra na qual se lançou o maior produtor do mundo, e a tolice política de Biden, que assumiu com a bandeira do fim dos combustíveis fósseis e da economia verde. Não teve visão para distinguir que a coisa já estava ficando feia. Agora, tem que ir para a Arábia Saudita fazer as pazes com o príncipe que mandou matar e esquartejar um colaborador do Washington Post. Está certo ao fazê-lo, pois interesses nacionais superiores assim o exigem, mas é duro de engolir.

    Por atitudes assim, entre outras, Biden é cada vez mais abertamente rejeitado pela esquerda que batalhou por sua eleição. A direita sempre o abominou. E o centro acha que mentiu ao prometer um governo moderado e inclusivo.

    Bolsa em queda é o tipo de assunto que parece indiferente para a maioria dos brasileiros, mas para os americanos tem um efeito sentido imediatamente: a maioria administra seus fundos de aposentadoria, chamados 401 (k),  e investe em empresas que parecem promissoras. 

    Desde o fim de 2021, a derrocada dos mercados incinerou três trilhões de dólares desses ativos.

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    A sensação de ter ficado mais pobre não ajuda nada na popularidade do presidente. Na média das pesquisas, está com 39,9% de aprovação.

    Some-se a isso o flagelo da inflação, preocupação unânime dos americanos. 

    “O presidente Joe Biden não admite que suas políticas, e as políticas de seu partido, pioraram a inflação – e que se Biden e os democratas do Congresso tivessem conseguido o que queriam, ela estaria pior ainda”, metralhou Byron York no Washington Times.

    “A reação do presidente tem sido uma mistura de negação, atribuição de culpa, gestos ineficazes e, talvez o pior de tudo, o argumento de que ele, como presidente, é virtualmente impotente para enfrentar a questão nacional mais premente”.

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    “Quando Biden publicou seu plano de combate à inflação no Wall Street Journal, em 30 de maio, sua primeira medida não foi fazer alguma coisa, mas deixar o Fed fazer seu trabalho. Seu papel como presidente, disse Biden, era não dizer nada de ruim sobre o Fed”.

    É claro que já tem um monte de gente dizendo coisas ruins sobre o Fed e sobre a secretária do Tesouro, Janet Yellen, que conseguiu marcar bobeira sobre a inflação – quase inacreditável para alguém com seu currículo.

    Economia ruim misturada com idade avançada não dá certo. Segundo uma pesquisa do começo do ano, 58% dos americanos favorecem a idade máxima de 70 anos para cargos eletivos – o que acabaria com um terço do Congresso, incluindo sua atual presidente, Nancy Pelosi, de 82 anos. O líder republicano, Mitch McConnell, está com 80. Donald Trump, que hoje venceria Biden, tem 76.

    A sensação de que o país tem uma gerontocracia inamovível e falta renovação contrasta fortemente com o dinamismo da sociedade americana. 

    Quando Biden foi eleito, muitos democratas já tinham o próximo passo em mente: ele teria um mandato tampão, concedido-lhe especificamente para derrotar Trump, e a vice Kamala Harris – Mulher! Negra! Progressista! – seria a próxima presidente.

    Hoje, Kamala tem avaliação pior ainda do que a de Biden, um feito para alguém cuja tarefa principal é não fazer nada. Dispara declarações rasas, demite assessores constantemente e parece perdida.

    Uma disputa Biden-Trump em 2024 seria uma tristeza para a maior potência de todos os tempos e bastião mundial da democracia.

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