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Casal Kirchner: ele esmurrava assessores, mas ela “era pior”

Corrupção, baixaria e até violência são alguns dos detalhes sórdidos que emergem do “cadernogate”, mas faltam muitas lágrimas pela Argentina

Por Vilma Gryzinski 23 ago 2018, 19h06

A velocidade com que a Argentina se aproxima rapidamente de mais uma fase de paroxismo aumenta a cada dia.

Por exemplo, que notícia escolher como mais simbólica num dia em que autoridades judiciais fizeram buscas nas três residências da ex-presidente Cristina Kirchner, com autorização aprovada por unanimidade no Senado, e saiu o tamanho da derrocada na atividade econômica, 6,7% em junho?

Ou talvez seja preciso recuar um dia e registrar a reação repugnante de uma senadora kirchnerista, María Inés Pillatti Vergara, à aprovação das buscas por colegas de partido, um sinal forte de que o peronismo, tal como o resto do país, está entrando em autofagia.

“Querem ficar bem com as senhoras gordas que ontem fizeram manifestação, mas lá no bairro isso se chama traição.”

A referência é a um protesto de mulheres contra o fogo privilegiado. Chamar de gordas mulheres de posição política contrária é até pouco comparado ao que Cristina Kirchner fazia: humilhava mulheres de seu próprio entorno.

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A informação consta do mar de revelações espantosas feitas por Claudio Uberti, um dos arrecadadores de subornos que resolveu fazer um acordo de delação premiada depois que o caso dos “cadernos da propina” engolfou o país.

Os cadernos registram as anotações detalhadas feitas durante dez anos por um motorista que acompanhava a inesgotável entrega de sacolas de dinheiro pagos por empresários que ganhavam contratos públicos.

O dinheiro ia diretamente para os endereços particulares ou oficiais dos Kirchner, primeiro Néstor, o ex-presidente que morreu em 2010, quando já tinha garantido, através da mulher, a continuidade da roubalheira.

“Se com Néstor era impossível trabalhar, com Cristina era muito pior”, relatou Uberti.

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“Cristina tinha uma forma terrível de interagir com as pessoas. Não cumprimentava ninguém, insultava seus colaboradores, principalmente as mulheres.”

ESTILO GEDDEL

É difícil imaginar como ela podia ser pior, considerando-se que o marido batia ou mandava bater em assessores.

O próprio Uberti levou um soco, fora os palavrões e os gritos de que precisava “entregar mais” – a área de “entrega” dele era como superintendente de anéis viários, certamente um campo promissor.

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Também relatou o que aconteceu com um funcionário do cerimonial que ousou atrasar a entrega de jornais a Kirchner durante uma viagem a Madri.

Néstor Kirchner mandou seu secretário particular, o ex-motorista Daniel Muñoz, “dar três” socos, tão violentos que deixaram o funcionário Ruben Zacarías caído no chão.

“Assim tratamos os traidores”, disse Kirchner, notório pelo temperamento furibundo. Especialmente se envolvia dinheiro: Uberti viu pessoalmente o presidente esmurrar sacolas de dinheiro de propina levadas a seu gabinete porque misturavam euros com pesos.

No dia em que Néstor Kirchner morreu de infarte, “havia 60 milhões de dólares em seu apartamento” – o mesmo que agora foi revistado por ordem judicial.

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Segundo descrição de Claudio Uberti, o apartamento parecia o mocó do ex-ministro Geddel Vieira Lima, atualmente no sistema prisional.

Uma vez ele viu umas vinte sacolas num quarto, aguardando transporte por via aérea para a casa da família Kirchner em Río Gallegos.

Esta é a cidade da província de Santa Cruz, na Patagônia, onde o casal começou sua carreira criminosa disfarçada de política distributivista, lançando solidamente as bases do desastre econômico que agora assola a Argentina, alimentado por decisões equivocadas do presidente Mauricio Macri.

E TEM O PRIMO

Devastado pelo buraco que só aumenta de tamanho, Macri tem um problema adicional. Seu primo e herdeiro do maior grupo empresarial do país, do qual se afastou para entrar na política, é um dos vinte empresários que já fizeram acordos de delação premiada desde que apareceram nos “cadernos da propina”.

O fio que começa em Angelo Calcaterra, um milionário com cabelo de jogador de futebol argentino que quando a coisa ficou feia decidiu se apresentar de forma voluntária para contar como pagava subornos maciços para que “afrouxassem a pressão”, dificilmente deixará de levar a Franco Macri, o pai do presidente.

O criador do grupo já foi um entusiasta da administração Kirchner – não existe nenhum brasileiro que não imagine os motivos.

Segundo uma análise feita na revista Perfil, “o peronismo não kirchnerista acredita que em dezembro a Argentina explode”, empurrada para o abismo pelo ciclo de desvalorização contínua do peso e de aumento da inflação.

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Macri tem chance zero de reeleição, segundo esta análise, e os peronistas tradicionais estão posicionando seus cavalinhos para 2019.

Já o peronismo kirchnerista está vendo que “la jefa” caminha inelutavelmente para o sistema prisional.

O que vai acontecer primeiro?

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