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Comparar judeus com nazistas revela a pulsão secreta do antissemitismo

Nas falas espontâneas, aparecem os atos falhos que demonstram os verdadeiros sentimentos - e eles são simplesmente os piores possíveis

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 10h13 - Publicado em 19 fev 2024, 11h46
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  • Por que comparar Israel com os nazistas? Por que não as legiões romanas, os hunos de Átila ou os mongóis de Gengis Khan, entre tantos exemplos dos horrores que a humanidade pode praticar contra si mesma?

    Os motivos estão aí para todos verem. Primeiro, é a linguagem que irmana uma parte da esquerda e os fundamentalistas islâmicos. É a linguagem que aparece nos comunicados do Hamas quando se refere, repetidamente, “às forças nazistas de ocupação”. A prática tem até um nome, “inversão do Holocausto”.

    Ao serem acusados de fazer o que “fizeram com eles”, os israelenses – os judeus, evidentemente – perdem o caráter único do que foi o genocídio praticado em escala industrial, jamais vista em matéria de eliminação organizada de um povo, durante o nazismo (o genocídio dos armênios foi mais “clássico”, com a morte de milhões pela fome e pela exaustão). Perdem também o caráter de herdeiros das vítimas dessa atrocidade. De certa maneira, perdem a humanidade. É o ato de antissemitismo perfeito.

    “O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando Hitler decidiu matar os judeus” foram as palavras com que o presidente Lula da Silva cavou seu lugar na história universal da infâmia.

    MISSÃO CIVILIZACIONAL

    O desastre, mais do que diplomático, geopolítico, que valeu o segundo agradecimento público do Hamas ao presidente brasileiro, vai reverberar muito além da declaração de que ele é persona non grata em Israel. O papel de estadista global com que tanto imaginavam envolvê-lo está definitivamente comprometido – e os diplomatas brasileiros sabem disso muito bem.

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    As declarações presidenciais comprometem gravemente a posição do Brasil no cenário internacional. Os companheiros do “Sul Global” podem aplaudir, mas a marca está impressa em letras bem grandes. Todos os interlocutores civilizados com quem ele venha a interagir saberão disso.

    Não é preciso conhecer A Psicopatologia da Vida Cotidiana para ver as frestas freudianas pelas quais elas escaparam, o “sem querer, querendo” popularizado por Chaves – o comediante mexicano, não o populista venezuelano.

    “As palavras vergonhosas do presidente do Brasil são uma combinação revoltante de ódio e ignorância”, disse Dani Dayan, diretor do museu do Holocausto chamado Yad Vashem – e rejeitado como embaixador de Israel no Brasil durante o governo de Dilma Rousseff.

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    O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, escolheu o museu como cenário incomum do encontro com o embaixador Frederico Meyer para a “repreensão”, uma etapa do balé diplomático geralmente confinada às chancelarias, que acabou virando a declaração de persona non grata. Ele mostrou o nome de seus avós no livro das vítimas, a infindável compilação dos que morreram de tantas formas diferentes.

    Visitar Yad Vashem é uma triste missão civilizacional. Mais triste ainda quando o opróbrio do antissemitismo agora recai sobre todo nosso amado país.

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