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Deve Hunter Biden ser condenado por mentir sobre drogas ao comprar arma?

O filho do presidente está sendo julgado em condições únicas: se não pegar pena de prisão, muitos compararão ao caso de Donald Trump

Por Vilma Gryzinski 11 jun 2024, 07h47
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  • Sexo com a cunhada viúva, filha com stripper só reconhecida na Justiça, uso terminal de crack e vídeos em que aparece nu usando drogas e fazendo poses com um Colt Cobra .38. Tudo isso já era conhecido sobre o passado sórdido de Hunter Biden, o filho do presidente, inclusive contado por ele próprio, numa autobiografia.

    E nada disso é ilegal, exceto pela parte do revólver. Ao comprá-lo, Hunter – o nome estranho é o sobrenome da mãe Neilia, tragicamente morta num acidente de automóvel quando ele era pequeno -, preencheu um questionário atestando que não usava maconha e outras substâncias proibidas e que estava dizendo a verdade. Estava no auge da autodestruição movida a crack.

    Por causa das duas declarações falsas feitas a um órgão federal, está sendo julgado em Wilmington, estado de Delaware.

    Note-se que ele ficou de posse da arma apenas onze dias. Hallie Biden, viúva de seu irmão Beau, morto prematuramente de câncer no cérebro, achou o revólver no carro de Hunter, com quem estava tendo um caso e através do qual ela própria tinha se tornado viciada em crack, o que a “envergonha muito”, como disse em seu depoimento.

    Colocou a arma dentro de uma embalagem de presente e a deixou no latão de lixo de um supermercado, como as câmeras registraram. Definitivamente um ato nada brilhante. O Colt foi encontrado por um homem idoso que vasculhava lixo e o guardou até que a polícia apareceu à sua procura. Acabou no julgamento do filho do presidente.

    REVANCHE TRUMPISTA

    É um momento constrangedor por mostrar as insanidades a que a droga arrasta seus escravos. A defesa pretende justamente explorar o aspecto de extrema vulnerabilidade do réu – e a redenção que heroicamente conquistou, ajudado pela mulher, Melissa, com quem se casou menos de duas semanas depois de conhecer.

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    É claro que a turma trumpista não vê nada de heroico num homem altamente privilegiado que se joga voluntariamente no vício. E desafia: se Donald Trump foi condenado por falsificar registros comerciais para esconder um caso extraconjugal, como Hunter Biden poderia escapar livre por um crime envolvendo arma nas mãos de um viciado e, potencialmente, um risco muito maior?

    Para os trumpistas também é um momento de revanche. As baixarias de Biden filho são conhecidas em detalhe porque ele filmou tudo e guardou no seu laptop. Quando o computador foi descoberto, através da loja de reparos onde Hunter o deixou e nunca mais voltou, todos os grandes órgãos de comunicação e as figuras mais importantes do establishment, inclusive 51 nomões ligados aos serviços de inteligência, disseram que era fake. Insinuaram que tinha sido plantado pelos russos para alterar a eleição em que Trump acabaria perdendo para Joe Biden.

    Houve um mea-culpa? Os jornalões devolveram os prêmios que ganharam com a cobertura, enganosa, do caso? Os figurões pediram desculpas por terem sido os verdadeiros autores de uma fake news? As redes sociais se arrependeram de bloquear a notícia, um furo do New York Post?

    Até hoje, só Mark Zuckerberg reconheceu o erro.

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    MELANIA FAKE

    O computador, um MacBook Pro, foi mostrado no tribunal na quarta-feira passada, seguido de ensurdecedor silêncio dos que o diziam inexistente.

    Como nos bons filmes de julgamentos, o de Hunter Biden tem um elenco coadjuvante de primeira grandeza. A madrasta, Jill Biden, a quem ele se referiu em termos de baixo calão em e-mails, compareceu a várias sessões. A irmã, Ashley, chorou. Naomi, a filha, testemunhou em favor do pai.

    A mulher, Melissa, deu uma de Melania Trump: cabelo preso, óculos escuros enormes, roupas chiques, expressão enigmática. Só perdeu a classe quando se referiu a um desafeto como “nazista judeu de *****”. Como ela também é judia, por adoção – e os grandes órgãos de comunicação continuam fazendo de tudo para proteger a tribo Biden -, passou quase em branco.

    Imaginem se Melania tivesse dito algo parecido.

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    NATUREZA HUMANA

    É justo explorar aspectos constrangedores, como um caso com a viúva do irmão e o “relacionamento” com a stripper Lunder Roberts, do qual nasceu uma filhinha de cinco anos, Navy, que até hoje não conheceu o pai nem o avô?

    Provavelmente, não. Figuras de destaque, mesmo que seja apenas por serem filhos ou parentes de personalidades, acabam passando por um crivo mais estrito do que o das pessoas comuns. É um preço que pagam pelos privilégios que herdam.

    O julgamento de Hunter se restringe ao caso da arma e não abarca nenhum aspecto de seus negócios em países como a Ucrânia e a China, comprovadamente favorecidos pela posição do pai, que na época era vice-presidente. São suspeitas muito mais sólidas de favorecimento ilícito e tráfico de influência, com potencial envolvimento do presidente.

    Mas quem resiste a um bonitão bem sucedido só em explorar o nome do pai que teve um caso com a viúva do irmão? É da natureza humana se interessar pelas falhas e defeitos de caráter dos outros, principalmente dos poderosos. De certa maneira, justificam nossos aspectos menos edificantes.

    O veredicto pode sair hoje.

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