Ele perdeu 100 bilhões de dólares, o Twitter vai fechar e, de forma geral, haverá um desastre de proporções astronômicas.
Isso é o que dizem os novos inimigos de Elon Musk, situados à esquerda do espectro político, horrorizados com o que já foi chamado de “republicanização” do homem que continua a ser o mais rico do mundo, embora sua fortuna tenha caído para apenas 254 bilhões de dólares.
A direita está deslumbrada, voltando em massa para o Twitter e se perguntando se pode ser verdade mesmo. Os mais entusiasmados agora dizem “Elon”, com intimidade – e uma boa dose de razão, considerando-se a injustiça de uma rede em que o aiatolá Ali Khamenei continuava dentro e o ex-presidente Donald Trump, fora.
Os prognósticos mudam a cada tuíte. Elon Musk começou a semana comprando uma briga – catastrófica, disseram os inimigos – com a Apple. Na quarta-feira, já estava visitando Tim Cook na futurista sede da gigante high tech na Califórnia.
“Resolvemos o mal-entendido sobre o Twitter ser potencialmente removido da App Store. Tim deixou claro que a Apple jamais considerou fazer isso”, tuitou Musk, para decepção da torcida contrária.
Musk já disse que não é “convencionalmente nem de esquerda nem de direita”, embora tenha sempre votado no Partido Democrata e manifestado simpatias libertárias como um autodeclarado “absolutista da liberdade de expressão”.
Agora, manifestou apoio a uma candidatura presidencial de Ron DeSantis, um político “sensato e centrista”. Também disse que a militância “woke” – a palavra em inglês que se infiltrou em todos os vocabulários como novo definição do politicamente correto – é um vírus que se propagou pela indústria do entretenimento e “está empurrando a civilização para o suicídio”.
“É preciso haver uma contranarrativa”, disse, com toda razão – uma única forma de pensamento, dirigida indiscriminadamente contra as coisas ruins mas também as boas da civilização ocidental, solapa conquistas da humanidade como o direito ao contraditório e ao livre embate das ideias, o escalpelante fogareiro onde a liberdade de expressão é mantida viva.
Além de falar, Elon Musk também vai fazer: prometeu divulgar os bastidores da decisão do Twitter de censurar, na véspera da eleição presidencial, a reportagem do jornal New York Post sobre conteúdos explosivos do computador de Hunter Biden, o filho problema do presidente. Com isso, “o Twitter interferiu nas eleições”. Ao todo, o jornal passou dezesseis dias na geladeira.
Mostrar erros assim não vai mudar nada, obviamente, em termos reais: Joe Biden continua presidente e Donald Trump continua reclamando que foi roubado.
Mas é importante para a opinião pública entender o perigo enorme de deixar nas mãos dos donos das redes sociais, ou de outras forças, o poder de decidir o que pode e não pode ser divulgado.
Elon Musk adquiriu esse poder enorme ao entrar no mundo digital. Não tinha isso nem com o programa espacial da SpaceX nem com a maior fabricante do mundo de carros elétricos. Parece, evidentemente, embriagado com ele. Dá foras e fala besteiras como no caso da proposta para acabar com a guerra na Ucrânia, que envolveria um plebiscito nas regiões ocupadas pela Rússia, sem dizer como fazer isso em lugares dominados por uma potência agressora.
Também entrou fazendo demissões em massa no Twitter e arrumou mais um exército de inimigos. Mas deixar o passarinho mais livre para voar, além de desencadear um debate essencial sobre o que é ou não desinformação e quem tem o direito de remover conteúdos, oxigena canais que pareciam entupidos.
Um exemplo: até o responsável pela censura pelo Twitter do New York Post, Yoel Roth, que já deixou a empresa, admitiu que foi “um erro” bloquear o jornal.
Elon Musk prometeu que o “Twitter 2.0 será mais eficiente, transparente e equilibrado”. Colonizar Marte é mais fácil do que isso. Mas quem além dele pode tentar fazer as duas coisas?