Escócia: até 7 anos de cadeia para pais que rejeitarem transição de filhos
Para corrigir injustiças e discriminação contra jovens que querem mudar de gênero, autoridades escocesas caem no exagero oposto
A maioria das pessoas conhece casos terríveis de jovens homossexuais rejeitados, espancados e expulsos de casa, em especial por pais inconformados. Agora a Escócia está fazendo o contrário: perseguindo com legislação absurda, incluindo penas de cadeia, pais que não deixarem seus filhos mudar de gênero.
A nova legislação abrange proibições à terapia de conversão, os rejeitados e inúteis tratamentos para impedir que jovens passem a se trajar, se comportar e fazer procedimentos médicos para ficarem mais parecidos com mulheres ou homens.
Os responsáveis pela proposta citam como exemplo de “terapia de conversão” impedir que alguém “se vista da maneira que reflete sua orientação sexual ou identidade de gênero”.
O mais elementar bom senso rejeita a criminalização de comportamentos familiares, em especial numa questão de alta complexidade como a identidade de jovens em permanente mudança. Da mesma forma que esta identidade pode ser definitiva e inexorável, também pode ser fruto de influência de redes sociais e movimentos organizados que adotam uma posição doutrinária. Num mundo ideal, profissionais médicos seriam os mais autorizados a orientar jovens – e pais -, mas já foi comprovada, no Reino Unido, uma razoável quantidade de casos de transição de gênero apressados e mal diagnosticados.
“Estamos muito preocupadas com a possibilidade de que esses planos criminalizem pais dedicados que enfrentarão anos de prisão simplesmente por se recusar a aderir à seita da ideologia de gênero”, disse Marion Calder, co-fundadora de um grupo que se opõe a que mulheres trans cumpram penas de prisão em penitenciárias femininas.
CÉREBRO IMATURO
O exemplo das penitenciárias simboliza os exageros da ideologia woke que acontecem na Escócia, onde o partido separatista se transformou, passando de movimento que apoiava a independência em relação ao Reino Unido a indutor de interferências do Estado no comportamento individual.
Mesmo depois do escândalo de Isla Bryson, trans condenada pelo estupro de duas mulheres e cercada de suspeitas de que havia declarado mudança de gênero apenas para cumprir pena em penitenciária feminina, a regra continua valendo para a maioria dos casos similares. A exceção é para autores de crimes sexuais contra mulheres e meninas. Se as vítimas forem homens, tudo bem.
Outro exemplo da ideologia woke: as autoridades penais são aconselhadas a levar em consideração que pessoas abaixo de 25 anos ainda não têm o córtex frontal inteiramente amadurecido, o que deve ser usado como atenuante. Em compensação, a partir dos 16 anos poderiam declarar mudança de gênero – esta legislação foi suspensa pelo Parlamento britânico, que tem autoridade para interferir em questões dessa natureza.
ACOLHIMENTO
“Imaginem isso: num futuro não muito distante, um menino de onze anos chega em casa e diz que é menina. Veste-se para sair com amigos, usando sutiã com enchimento, microssaia e maquiagem completa. Quando os pais dizem que não pode sair desse jeito, ele diz que é o modo de expressar sua identidade de gênero e ameaça chamar a polícia”, escreveu no Telegraph a escritora feminista Julie Bendel.
Ela fala com conhecimento de causa: como jornalista, inscreveu-se num curso de terapia de conversão nos Estados Unidos para “deixar de ser lésbica”. Foi uma experiência horrível que ela acha impossível comparar com a atitude de pais “preocupados com a influência da ideologia de gênero e com o bem estar de seus filhos”.
Segundo Bindel, não são os pais que fazem terapia de conversão, mas sim “aqueles que dizem a crianças que se identificar com o sexo oposto vai resolver seus problemas”.
É possível que Julie Bendel esteja exagerando e o acolhimento a jovens nessa situação exija atitudes mais flexíveis. Mas ameaçar mandar pais e mães para a cadeia não instaurará atitudes mais humanas e sensíveis.
Todos os que querem agir assim enfrentam grandes desafios, mas é mais difícil errar quando amor e bom senso se equilibram em doses iguais.