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Há oitenta anos: o dia que deve perdurar na história e na memória

Tudo o que há de melhor no ser humano - e até o acaso, esse grande general - foi mobilizado para permitir o dia 6 de junho de 1944

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 jun 2024, 07h57 - Publicado em 5 jun 2024, 07h54

Dwight Eisenhower, um menino pobre criado no interior do Kansas que o destino colocou para lidar com reis e homens maiores do que a vida, escreveu dois discursos na véspera do Dia D.

Um ele pronunciou diante da tropa, homens e quase meninos, cheios de expectativa, ansiedade e também medo de enfrentar, em posição desvantajosa, um inimigo “bem treinado, bem equipado e com experiência de combate” que iria “lutar selvagemente”.

“Os olhos do mundo estão em vocês. As esperanças e as preces dos que amam a liberdade marcharão com vocês”, diziam as palavras que encontraram seu lugar entre os discursos mais conhecidos do mundo.

Mas o discurso que ele nunca fez ficou mais famoso. Era mais curto e rasurado. Ficou guardado no bolso de sua túnica de general de quatro estrelas (chegou a cinco depois da vitória na II Guerra) e comandante supremo das forças aliadas. Se o desembarque na Normandia não desse certo, “qualquer culpa ou erro relacionado à tentativa é exclusivamente minha”.

Eisenhower era um homem honrado e descomplicado, tendo que lidar com algumas das personalidades mais gigantescas e complicadas da história. Incluindo-se Winston Churchill, Charles de Gaulle e Josef Stalin. Sem contar seus próprios e temperamentais generais, todos loucos, segundo suas próprias palavras, para repetir a Batalha de Canas, a histórica derrota imposta aos romanos pelo cartaginês Aníbal.

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Churchill achava a Operação Overlord arriscada demais e temia pelas baixas que seria infligidas à população francesa – confirmadas depois pela realidade, com 20 mil civis mortos na campanha para liberá-los da Alemanha nazista. De Gaulle dizia que os franceses aguentariam. Stalin exigia constantemente que os aliados abrissem a frente ocidental para aliviar o peso sobre a União Soviética.

QUINZE MIL MORTOS

É fácil dizer a posteriori, como foi feito tantas vezes, que a Alemanha já estava derrotada ao se colocar no gélido e letal abraço russo. É fácil entender que a invasão da Europa conquistada também pretendia impedir que, depois de sobreviver ao erro fatal de Hitler, os soviéticos não parassem em Berlim e chegassem ao Atlântico.

Mas também é fácil perceber o nível insuportável de risco que todos correram para fazer do maior desembarque anfíbio da história uma história de sucesso, não de fracasso como tentativas anteriores.

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Passados oitenta anos, é possível colocar juntos todos os mortos: quinze mil aliados e alemães morreram na invasão da Normandia. Só no Dia D, foram 4 414 aliados, dos quais 2 501 americanos.

A combinação de estratégica, tática e logística, a engenhosidade sem precedentes do desembarque falsificado no Pas de Calais para enganar os alemães, a arrogância de Hitler que deixou a seu legendário comandante, Erwin Rommel, apenas uma divisão no raio de ação dos aliados, as condições climáticas e até o mais imponderável dos fatores, que Napoleão exigia de seus generais – a sorte -, esteve muito perto de não dar certo.

Em Omaha Beach, a praia francesa que ganhou um codinome tão americano, que depois se tornaria legendária nos relatos e nos filmes, os alemães tinham a defesa mais poderosa e os aliados as condições mais impossíveis, tendo que conquistar, “na mão”, penhascos fortificados. Na primeira onda, a dos primeiros a saltar das embarcações, a chance de sobrevivência era de 50%. Estiveram muito, muito perto de fracassar.

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Conquistadas as cabeças de praia, mais de dois milhões de soldados aliados – americanos, britânicos, canadenses e combatentes que haviam conseguido fugir dos países europeus ocupados pela Alemanha nazista – participaram da Operação Overlord. Em cruentos dois meses e meio, a 19 de agosto, Paris era libertada.

HERANÇA DE SUCESSO

Os últimos sobreviventes entre aqueles rapazes com o rosto escurecido por fuligem ou restos de chá têm hoje, no mínimo, 98 anos. Na próxima data comemorativa redonda, estarão todos mortos. Apenas 48% das pessoas de 18 a 34 anos no Reino Unido, o país do qual o desembarque foi lançado e que tinha as apostas mais altas em seu sucesso, identificam o Dia D como a data do desembarque na Normandia. Em todos os grupos etários, o índice chega a 59%. Outros 12% acham que foi o dia da rendição da Alemanha (foi em 8 de maio de 1945, onze meses depois do desembarque aliado; a rendição do Japão, encerrando a guerra, foi em 2 de setembro e, na opinião de Eisenhower, não teria sido necessário “usar aquela coisa horrível” num país já derrotado).

É uma tristeza ver o gradual apagamento do que o Dia D representou, ao reunir tudo o que o ser humano faz de bom – coragem, ousadia, superação do medo, liderança positiva, solidariedade, espírito de sacrifício, mobilização da sociedade, engenho e tecnologia -, mesmo quando tem que fazer tanto de ruim, como guerra e destruição, inevitáveis para derrotar a tirania.

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A herança de sucesso representada pela vitória na II Guerra hoje tem várias rachaduras. Vladimir Putin nem foi convidado para as comemorações dos oitenta anos de amanhã. Como incluir o invasor de um país vizinho que sistematicamente ameaça países europeus com o holocausto nuclear?

Putin tem um plano: solapar a aliança forjada na II Guerra, batizada no sangue derramado no Dia D e liderada pelos Estados Unidos. Lamentavelmente, está dando certo, ajudado pelos que se imaginam liderar uma ficção chamada Sul Global.

Para eles, o Dia D não significa nada ou é apenas um sinal da expansão da hegemonia americana. É triste.

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