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Irã: mulher leva tiro por dirigir sem véu, jovem é detido por usar bermuda

Presidente 'moderado' não muda nada e enquanto aumenta a expectativa por ataque a Israel, 'patrulha da roupa' redobra perseguições

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 20 ago 2024, 08h32 - Publicado em 20 ago 2024, 08h28

Os acontecimentos no Irã são de tirar o fôlego: um presidente morreu em acidente de helicóptero, outro considerado mais moderado foi eleito em seu lugar; Israel explodiu o líder político do Hamas no dia da sua posse; um dos vice-presidentes renunciou logo em seguida e o país vive dias de altíssima ansiedade, esperando a retaliação pelo assassinato que humilhou o regime e a contra-retaliação israelense. Dá para acreditar que, nesse clima, a polícia religiosa persegue mulheres para fiscalizar o uso do pano na cabeça e até homens que não se enquadram nos padrões obrigatórios de modéstia?

E não são perseguições banais. Arezoo Badri, uma linda mulher de 31 anos, levou um tiro que a deixou paraplégica pelo crime de não parar numa barreira policial porque não estava usando o véu obrigatório na cabeça. Foi em 22 de julho, na cidade de Noor. Em casos assim, os carros são confiscados e as motoristas levam multas.

A perseguição aumentou, em vez de diminuir, depois que o regime teocrático conseguiu controlar os grandes protestos de 2022, desencadeados pela morte por traumatismo craniano de Masha Amini, a jovem de 22 anos presa por deixar mechas do cabelo aparecer debaixo do véu.

Vídeos feitos por celular mostram cenas abomináveis, como a de duas adolescentes que usam o uniforme internacional da sua idade – calça de moletom e camiseta -, com os cabelos compridos à mostra. Elas veem passar um carro da polícia religiosa, tentam se esconder atrás de uma caçamba de lixo e são arrastadas, violentamente, pelas mulheres cobertas de negro que trabalham nessa atividade e por homens também.

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HOMENS PATRULHADOS

As regras religiosas não permitiriam que as meninas fossem tocadas por estranhos, mas a obsessão pelas vestimentas que atendam os códigos radicais de modéstia é maior do que tudo. No começo da revolução dos turbantes, o aiatolá Khomeini disse que restaurar o uso obrigatório do chador, como os iranianos chamam o grande véu negro que deve ser colocado na cabeça, sobre roupas que escondam todo o corpo, era mais importante do que todos os tanques que o regime pudesse mobilizar a seu serviço.

Para os fanáticos, as regras continuam a valer, embora haja muitas interpretações diferentes sobre os trechos do Corão referentes ao modo de trajar e pesquisas indiquem que uma parte majoritária da sociedade iraniana favoreça a livre escolha.

Os homens também são patrulhados. Circulou o vídeo de um jovem sendo preso pela polícia religiosa por usar bermudão. “Mas está calor”, reclamou ele, referindo-se aos 45 graus em Teerã. “Seu jumento, acha que pode fazer a ***** que quiser?”, respondeu a “autoridade”. Uma testemunha disse que o detido foi espancado. Houve outros casos similares.

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“O ar condicionado não estava funcionando por causa do apagão e disse a minha esposa que ia dar uma volta”, contou um homem identificado apenas como Meysam. A van da polícia da moral parou e um deles perguntou: “Onde você pensa que está vivendo?”.

Num dos países mais repressivos do mundo, sem dúvida nenhuma – na mesma perua em que foi levado para a delegacia, havia outro homem detido por usar bermuda e três meninas sem véu chorando.

CONCENTRAÇÃO DE TERRORISTAS

Por mais inacreditável que pareça, está sendo discutido um projeto de lei no Parlamento para formalizar as exigências sobre os trajes masculinos, que não podem “mostrar nada abaixo do queixo e acima do tornozelo”.

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O país pegando fogo, e não só pelo calor de derreter, e essa á a preocupação. Alguns analistas acham que a linha dura está fazendo uma demonstração de força para o novo presidente, Masoud Pezeshkian. Ele já sofreu uma perda na equipe: Mohammad Javad Zarif pediu demissão menos de duas semanas depois de ser nomeado vice-presidente, segundo o sistema iraniano, encarregado de assuntos estratégicos.

Zarif e outros integrantes da ala reformista estariam decepcionados com o não cumprimento de promessas feitas pelo novo presidente de formação de um ministério com mais mulheres e minorias étnicas.

Também correu o boato de que Pezeshkian estaria defendendo a proposta de que o Irã retaliasse contra “bases do Mossad”, principalmente no Curdistão iraquiano, em vez de atacar direto em território israelense, com a consequente contra-retaliação.

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O momento atual é de extrema volatilidade. Primeiro, existe uma hipótese otimista: Hamas e Israel fazem um acordo e o Irã concorda em não retaliar pela morte de Ismail Hanyieh, o líder político palestino que achou estar suficientemente seguro para comparecer à posse de Pezeshkian, aquela com a mais alta concentração de terroristas de todos os tempos e que também foi prestigiada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.

HIPÓTESE PESSIMISTA

Pelo menos o visitante brasileiro não aceitou hospedagem oficial. Dois iranianos agindo a serviço do Mossad haviam colocado uma bomba debaixo da cama do quarto onde Hanyieh estava alojado, num complexo para hóspedes importantes totalmente controlado pela Guarda Revolucionária. Ou quase totalmente controlado, como se viu pelo atentado, com a bomba acionada à distância, depois que os responsáveis por instalá-la já haviam sido retirados do país.

Israel agiu certo, ao punir cabalmente um dos planejadores do ataque de 7 de outubro, ou aumentou desnecessariamente as tensões, expondo os israelenses a uma retaliação iraniana que será – ou seria – muito pior do que os bombardeios fracassados, por intervenção dos Estados Unidos e aliados, de 13 de abril passado?

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Na hipótese pessimista, fracassam as tentativas de acordo para devolver os sequestrados israelenses e suspender a guerra de Gaza, Hezbollah e Irã desfecham ataques concatenados em grande escala e os Estados Unidos não conseguem impedir que Israel responda com intensidade comparável.

As consequências são de uma gravidade quase impossível de descrever, com risco de uma guerra generalizada, perdas entre a população israelense como nunca aconteceu antes, a destruição do Líbano, bombardeios contra instalações nucleares e petrolíferas do Irã e todos os perigos subsequentes.

O que é um bermudão comparado a isso? Os fanáticos certamente não veem diferença. Ou talvez até achem que cobrir as pernas dos homens e os cabelos das mulheres seja mais importante.

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