Qual presidente fará menos mal aos Estados Unidos, e ao mundo, Donald Trump ou Joe Biden? Esse é o dilema de eleitores americanos indecisos ou que simplesmente odeiam as duas opções — nada menos que 25% do total. Em lugar de procurar o melhor candidato, veem-se na vexaminosa posição de escolher o menor pior, um Biden dolorosamente senil, fora políticas impopulares e equivocadas como o liberou geral na fronteira com o México, e um Trump com uma lista de defeitos que dá volta ao mundo. Sobre ela, nada melhor do que ouvir, não adversários, mas antigos aliados como o ex-ministro da Justiça Bill Barr (foi “nauseante” e “desprezível” a tentativa de melar o resultado da eleição perdida por um homem que “sempre põe o próprio ego acima do interesse nacional”) ou o ex-comandante dos fuzileiros navais, o general da reserva John Kelly, ministro da Casa Civil de Trump (“hipócrita”, “não fala a verdade” e “Deus nos ajude” se for reeleito).
O panorama dos governantes de países importantes hoje nos faz lembrar o clássico dos cartuns. Se ETs baixarem no nosso lindo planeta azul e pedirem “Levem-nos a seu líder”, daria até vergonha imaginar seus interlocutores. Um Biden que esfregaria testa com testa como fez com o papa Francisco? O próprio Francisco, que fez propaganda para o sindicato da Aerolíneas Argentinas, a empresa estatal que perde 1,5 milhão de dólares por dia, dinheiro dos pobres, só para marcar posição contra Javier Milei? Ou imaginem o diálogo do hipotético ET com Emmanuel Macron, o presidente francês que acionou o botão da autodestruição ao antecipar eleições sem nenhuma explicação lógica.
“‘Vai mais um impostozinho aí?’, perguntaria um ET galhofeiro diante de taxações de outro planeta”
Quem também está acelerado rumo à própria sabotagem política é o primeiro-ministro Rishi Sunak, líder do Partido Conservador do Reino Unido. Disse um comentarista inglês: os eleitores sabem que o Partido Trabalhista será um desastre, mas vão votar nele mesmo assim. Só de raiva dos conservadores que não respeitaram seus mandamentos fundacionais. O próximo chefe de governo é Keir Starmer, ex-trotskista que se passa por moderado. Foi apelidado de Keir Jong-un por causa das 33 fotos de sua própria e inflada pessoa no opaco programa de governo dos trabalhistas. Na Alemanha, o partido que construiu a social-democracia minguou para um humilhante terceiro lugar nas mãos do apagado primeiro-ministro Olaf Scholz. Em países periféricos, líderes de esquerda ignoram as mudanças das últimas décadas e tentam recuperar políticas do Estado promotor de crescimento que faziam sentido quando Getúlio Vargas ou Juan Domingo Perón criavam a aura de transformadores de nações agrárias e subdesenvolvidas. Ironicamente, em ambos os países foi o agronegócio que se modernizou e virou a máquina exportadora imaginada para uma indústria incapaz de alcançar a competitividade requerida no mundo atual — talvez, justamente, pelo vício no protecionismo. “Vai mais um impostozinho aí?”, perguntaria um ET galhofeiro diante de taxações de outro planeta.
Em tempo: Bill Barr reconsiderou suas posições e disse que vai votar em Trump em 5 de novembro. “Acredito que ele fará menos mal nos próximos quatro anos”, argumentou. Continuar com Biden por mais um mandato “seria um suicídio nacional”. Riam, ETs, riam.
Publicado em VEJA de 21 de junho de 2024, edição nº 2898