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Nem Gal Gadot escapa do clima de confronto criado por guerra em Gaza

Briga na entrada da exibição do filme com atrocidades do Hamas ilustra como provas não interessam aos que fazem escolhas ideológicas

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 20h11 - Publicado em 10 nov 2023, 08h33
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  • Seria fácil dizer que o mundo artístico está dividido em relação à guerra desencadeada quando o Hamas atacou comunidades israelenses, mas isso não é verdade.

    As manifestações de solidariedade, não ao governo, mas à nação israelense, brutalmente traumatizada, partem, na maioria, de artistas de origem judaica – e assim mesmo, nem de todos.

    Foi assim com a promoção à qual Gal Gadot, atriz israelense que encarnou a Mulher-Maravilha, somou o prestígio de seu nome. Por iniciativa do diretor Guy Nattiv, a transmissão no Museu da Tolerância a nomes do mundo do cinema deveria ilustrar o tamanho das atrocidades cometidas.

    A briga, aos socos, em frente ao museu mostrou que na verdade muitos não querem ver o que aconteceu para continuar apegados a uma visão não permeável a fatos. “O Museu da Tolerância está exibindo um filme a favor do genocídio”, dizia um dos cartazes de manifestantes pró-palestinos.

    Como argumentar com esse nível de distorção?

    A realidade é a seguinte: quem acha que Israel tem a culpa por todos os males do mundo não vai mudar de ideia nem diante das mais cabais provas de agressão bárbara. Quem não quer ver que o Hamas programou o ataque – mais bem sucedido do que esperava – com o objetivo específico de provocar o confronto, segundo seus próprios porta-vozes, vai continuar achando isso.

    Obviamente, isso não muda a situação crítica vivida pela população civil de Gaza, mas altera o enfoque moral. Israel tem o direito de se defender, mas ao fazer isso com força, acaba provocando um número alto de vítimas civis que prejudica a sua legitimidade.

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    São questões de alta complexidade e têm provocado discussões em redações de meios de comunicação e até em governos – algumas em altos brados.

    Na Inglaterra, por exemplo, discute-se se uma grande manifestação pró-palestinos deveria coincidir com o dia de rememorar os mortos em guerras, uma ocasião solene, com a presença da família real fazendo seu melhor papel.

    Proibir protestos é algo que regimes democráticos veem com merecidas ressalvas, mas Suella Braverman, que ocupa uma posição equivalente à de ministra do Interior, incendiou o debate ao escrever para o Times de Londres que o chefe da Scotland Yard, Mark Rowley, estava privilegiando os manifestantes. Se fosse outra causa, não agiria assim. O governo do primeiro-ministro Rishi Sunak, um hinduísta que é de origem indiana como Suella e caminha com cuidado sobre seus mocassins Prada para não transparecer nenhuma animosidade com muçulmanos, está “estabelecendo os detalhes” sobre o artigo da ministra que criticou o comandante da polícia. É claro que a oposição pediu a cabeça dela.

    Detalhe: 50% das pessoas comuns, segundo uma pesquisa de opinião, concordam com Suella e não querem que os dois eventos sejam simultâneos – 34% discordam e 16% não sabem.

    Até no governo americano existem divergências. Um documento convenientemente vazado por funcionários do Departamento de Estado demanda que as críticas feitas a portas fechadas às táticas militares de Israel sejam levadas ao público, para desfazer a imagem dos Estados Unidos como “um ator tendencioso e desonesto”.

    “Precisamos criticar publicamente as violações de Israel às normais internacionais como não limitar as operações ofensivas a alvos militares legítimos”.

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    Discernir alvos militares de uma organização que deliberadamente se mistura a instituições civis é, na prática, impossível, mas as vítimas colaterais têm um efeito sobre a opinião pública que, em algum momento, levarão os Estados Unidos a pressionar Israel de maneira mais agressiva. As “pausas humanitárias” de quatro horas por dia, anunciadas ontem, são um resultado dessas pressões.

    O documento do Departamento de Estado foi colocado num canal especial da chancelaria americana chamado Dissent Channel, dedicado justamente a opiniões divergentes às das políticas oficiais. Note-se que isso acontece num momento em que o secretário de Estado, Antony Blinken, está fazendo malabarismos para pressionar Israel a deixar entrar ajuda humanitária, manter alinhados países aliados tradicionais como Egito e Jordânia e traçar o futuro de Gaza pós-guerra – ou seja, missões dificílimas.

    Blinken, segundo o Politico, está fazendo reuniões para ouvir as críticas dos inconformados, uma impecável atitude politicamente correta. Mas ele tem o apoio mais importante possível, o de Joe Biden. O presidente e seu secretário de Estado coincidem que um cessar-fogo agora fortaleceria o Hamas e prejudicaria a própria possibilidade de uma pacificação, por imperfeita que seja.

    Quanto tempo Biden vai resistir às pressões? Entre seus próprios eleitores – e todos os políticos pensam em eleição o tempo todo – o apoio a Israel está diminuindo, foi de 30,9% nas primeiras semanas de outubro, sob o impacto da chacina, para 20,5%.. No total, 50% dos americanos favorecem a posição do presidente e 49% são contra. Dá para segurar até quando?

    Nem a Mulher-Maravilha sabe a resposta.

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