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“O inverno está chegando”: crise energética vai ficando cada vez pior

O Líbano sem luz é uma minúscula exceção; escassez grave é a que ronda China e Índia, os dois países mais populosos do mundo

Por Vilma Gryzinski 11 out 2021, 08h21
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  • Da Europa Ocidental aos extremos da China, uma mesma preocupação: se o inverno que se aproxima do hemisfério norte for muito rigoroso, a escassez de matrizes de energia vai turbinar ainda mais os preços e até exigir racionamento radical.

    Uma pequena projeção do que pode ser o futuro próximo aconteceu no Líbano, quando as duas principais usinas do país simplesmente pararam de funcionar.

    O Líbano é uma exceção, um país falido, dividido pelo sectarianismo e chantageado pelo Hezbollah onde nada está funcionando, desde os serviços mais básicos até o manejo da economia. Mas se já não estivessem em ação os elementos de uma crise energética global, não teria ficado no escuro, dependendo apenas dos geradores particulares que desde o tempo da guerra civil suprem o fornecimento que o Estado não consegue prover.

    Muito mais preocupantes, pelas consequências mundiais, são as crises que alcançam a China e a índia, cuja população somada dá 2,8 bilhões de habitantes.

    Na Índia falta carvão e na China falta praticamente tudo, com apagões e interrupção do trabalho em fábricas da monumental rede que abastece o mundo.

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    Uma prova da gravidade da situação foi dada no começo do mês pelo vice-primeiro-ministro Han Zheng, encarregado final do setor energético e da produção industrial.

    Han convocou os diretores das companhias energéticas e ordenou que “façam tudo o que for preciso” para não sufocar a economia e deixar a população desabastecida.

    “Tudo” inclui reativar as minas de carvão, que vinham reduzindo progressivamente o uso da maior matriz energética do país mais populoso do mundo (de 80% em 2017 para pouco mais de 50%, uma forma de diminuir a catastrófica poluição ambiental).

    Na hora da emergência, vale tudo, mas o efeito da reativação de minas de carvão obviamente não é imediato.

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    Além de aumentar a produção de carvão, a China está no mercado para comprar muito gás, o que evidentemente vai aumentar os preços e espalhar a crise energética por países europeus que não têm reservas próprias  (ou tomaram decisões precipitadas, como a Grã-Bretanha, que em 2017, numa época de gás farto e barato, eliminou os estoques estratégicos).

    “Se houver uma guerra energética, a China começa com uma tremenda vantagem”, escreveu Seb Kennedy na Spectator.

    “As três gigantes estatais de energia  – PetroChina, Sinopec e CNOOC – podem pagar mais aos fornecedores ocidentais que são regidos pela economia de mercado e, no caso do Reino Unido, pela cláusula que impede transferir custos aos consumidores finais”.

    “O preço do gás no atacado já atingiu um valor equivalente ao que seria o petróleo a 230 dólares o barril”.

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    O petróleo mesmo está em 80 dólares, com mais espaço para avançar.

    Da mesma forma que pacientes recuperados podem sofrer da “Covid prolongada”, as sequelas graves deixadas pela infecção, a economia mundial está enfrentado efeitos de prazo mais longo da pandemia.

    Inflação, endividamento público, aumento dos preços das matérias primas, excesso de postos vagos nas economias avançadas e a crise energética são todos produtos do efeito para e arranca provocado pela doença e pelas medidas tomadas para impedir o cataclisma econômico.

    A crise energética tem efeitos mais imediatos, medidos pelo aumento dos combustíveis e

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    pela disputa entre os países que podem mais por fontes limitadas, tanto pela extração como pelos meios de transporte.

    Se o inverno no hemisfério norte for prolongado, como o último, a crise irá se agravar. Como na série Game of Thrones, a perspectiva de que “o inverno está chegando” alimenta os prognósticos negativos.

    Em vários casos, mesmo antes da chegada do inverno a situação já parece crítica. Na Índia, a agência de energia elétrica avisou na quinta-feira que os estoques de carvão de metade das 135 usinas nacionais acabariam em três dias.

    Como aconteceu na China, a situação de crise tem uma causa boa: a recuperação econômica pós-pandemia foi maior do que o previsto e a demanda por energia disparou – 17% a mais nos últimos dois meses em comparação com 2019. Em estados como o Rajastão, o maior do país, a energia elétrica já está sendo cortada uma hora por dia.

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    Energia é como estabilidade: só pensamos nela quando a perdemos. Com limitações para cozinhar, lavar, trabalhar, ir de um lugar a outro por meios de transportes, usar o celular, acessar a internet, a vida fica um inferno.

    E economias já estressadas entram em situação de risco, com o mundo todo ficando mais próximo do pequenino Líbano, onde a energia elétrica foi retomada depois que o Exército cedeu estoques estratégicos de gasóleo.

    O apagão nacional não foi exatamente uma emergência: o fornecimento de eletricidade aos seis milhões de libaneses tem sido limitado a uma ou duas horas por dia há meses e a vida nas trevas já deixou de ser novidade. Explosões eventuais de protestos não mudam nada nessa realidade cruel, mas deixam o aviso: nenhum país determinado a não entrar na lista dos casos perdidos pode se dar ao luxo de chegar perto de um abismo parecido.

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