Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

O juiz que pode mandar prender Trump e o promotor que só pensa nisso

Nascido na Colômbia, Juan Merchan tem um caso que ele próprio chamou de monumental, mas o trabalho de Alvin Bragg é altamente complicado

Por Vilma Gryzinski 4 abr 2023, 12h28

Trinta e quatro acusações é de abalar qualquer um — mas não quem conhece como trabalham os promotores dos Estados Unidos, eleitos pelo voto direto e especializados em acabar com a liberdade dos réus que não fazem acordos de leniência. 

E até inocentes às vezes são conduzidos a estes acordos. Os números falam por si: em troca de penas relativamente menores, 95% dos acusados reconhecem a culpa antes de serem levados a julgamento. Aquelas cenas de filmes ou de séries, com advogados de defesa fazendo malabarismos para convencer os jurados e promotores se esforçando no sentido oposto, sob o olhar cheio de autoridade de um juiz, são uma exceção.

Donald Trump não vai fazer acordo nenhum, todo mundo sabe disso. Por isso, Alvin Bragg, o promotor-chefe com jurisdição sobre Manhattan, a ilha mais famosa do mundo, que foi chamado de “animal” pelo ex-presidente e colocado numa montagem — apagada — junto a um taco de beisebol, vai ter que mostrar trabalho com as 34 acusações alinhadas contra Trump.

Para enquadrá-lo num crime agravado, daqueles que dão cadeia, terá que provar que Trump não só sabia que estava infringindo a lei quando sua empresa falsificou registros comerciais para apresentar como honorários advocatícios o reembolso dos 130 mil dólares que seu advogado faz-tudo tinha pago à atriz pornô Stormy Daniels, como fez isso com o objetivo de beneficiar sua campanha presidencial de 2016.

A defesa de Trump alegará que o pagamento, em troca de silêncio sobre um encontro sexual no longínquo ano de 2006, foi um ato preventivo porque “sabia que haveria uma alegação pública” que criaria constrangimentos para ele e sua família. Em princípio, Trump nem reconhece que foi para a cama com Stormy.

O clima é tão explosivo e Trump está tão disposto a jogar líquido inflamável na fogueira que o antecessor de Bragg, Cyrus Vance Jr, sugeriu que os comentários agressivos do ex-presidente sobre o promotor justificariam, por si sós, outro processo contra ele.

Continua após a publicidade

Bragg, um jurista negro nascido no Harlem e formado em Harvard que tem cerca de 500 advogados trabalhando em sua promotoria, tem feito a única coisa lógica até agora: só falar perante o juiz.

E que juiz. Juan Manuel Merchan nasceu em Bogotá e foi com a família para os Estados Unidos aos seis anos de idade. Ele já julgou um executivo das empresas Trump, Allen Weisselberg, e disse que daria uma sentença maior do que os cinco meses de cadeia se o executivo financeiro não tivesse feito um acordo de leniência com a promotoria.

“ELE ME ODEIA”, postou Trump, em maiúsculas. 

Estaria louco em ofender um promotor negro e acusar o juiz latino perante o qual se apresentará hoje?

A estratégia das pontes queimadas não é produto de maluquice, embora tenha muito do “instinto primal” que levou Trump à Casa Branca — e pode levá-lo também à cadeia, pois o atributo, típico dos líderes populistas que encontram um canal direto com as massas, funciona a favor e contra.

Continua após a publicidade

Trump faz tudo para se colocar como um grande perseguido político, uma vítima do sistema que ele indubitavelmente abalou quando foi eleito presidente. Sabe muito bem que Bragg e Merchan são da linha de juristas ativistas, simpatizantes de uma interpretação de esquerda do papel da Justiça. Desde que assumiu, em janeiro do ano passado, Bragg rebaixou a gravidade de 52% dos crimes que passaram por sua mesa (em compensação, a criminalidade aumentou 22% em Nova York).

Pelos caminhos mais tortuosos possíveis, Trump está onde sempre quis: no centro das atenções dos Estados Unidos. Seu trajeto na Flórida, numa comitiva de onze SVUs, rumo ao próprio avião, e a chegada em Nova York foram transmitidos ao vivo, evocando cenas do caso O. J. Simpson, o jogador de futebol americano que fugiu da polícia por causa do assassinato da mulher e de um conhecido dela (foi, famosamente, absolvido, num caso que comprovou como bons advogados convencem jurados do impossível).

O juiz Merchan proibiu câmeras de televisão na audiência de hoje. Só poderão entrar seis fotógrafos, trabalhando em sistema de pool, no início da sessão.

Segundo Michael Isikoff, um repórter — e antitrumpista — renomado, hoje trabalhando no Yahoo News, Merchan vai determinar a prisão de Trump. Mas o o ex-presidente não terá que fazer a fotografia que seus inimigos sonham em ver nem será colocado numa cela.

Se o caso contra ele não se sustentar, é razoável supor que estará reeleito em 2024. Na hipótese contrária, com um promotor e um juiz visceralmente opostos a ele, estará preso.

Continua após a publicidade

É possível inventar história melhor?

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.