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O Trump do segundo mandato

Disposto a arriscar mais, ele reescreve as regras do poder

Por Vilma Gryzinski 16 ago 2025, 08h00

“Meu nome é Ozymandias, rei dos reis: contemplai as minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos.” As chances de que Donald Trump ande lendo Shelley e o soneto onde celebra, pelo nome grego, o faraó Ramsés II, são baixas. Mas ele certamente deu uma acelerada em seu relacionamento com o poder. Quer fazer coisas grandiosas, maiores do que deixou no primeiro mandato, mesmo que sejam arriscadas — ou talvez porque o sejam. As reações podem ser de amor ou de ódio, mas Trump está rasgando as regras do status quo. Um dos instrumentos para isso é o comércio. O próprio Trump já disse que usa o comércio “para outras coisas”. Nós estamos vivendo isso na pele, com a associação entre o aumento de tarifas e os procedimentos legais contra Bolsonaro e simpatizantes. O roteiro do acirramento do tom nas relações bilaterais está sendo criteriosamente seguido. Temos hoje um Brasil que o presidente americano quer transformar em exemplo do que não deve ser feito. Outros países muito mais próximos, como o Canadá ou a Coreia do Sul, foram tratados com rigor inédito. De nada adiantou o dinheiro gasto com lobistas, segundo mostrou uma reportagem do site Politico. Algumas vezes a mesma firma de lobby, atividade discutível da democracia americana (com a única vantagem de que seus profissionais precisam ser registrados), conseguiu promover a causa de alguns clientes, mas não de outros. A afinidade política conta pouco. O único país beneficiado pela identidade ideológica foi a Argentina, com a sobretaxa de “apenas” 10%.

Um lobista indiano suspirou: “O modelo antigo de tentar exercer influência não parece estar funcionando”. Entre os lobistas contratados pela Índia está Jason Miller, do círculo muito próximo de Trump e voz influente na defesa de Bolsonaro. Miller foi detido para uma “conversa” com a PF depois de participar de uma conferência de direita no Brasil, a mando de Alexandre de Moraes. Reagiu ele a uma entrevista do presidente Lula, aquela em que dizia que não iria se “humilhar” diante do presidente americano: “Lula é o Biden dos trópicos. O cérebro dele é purê de banana a esta altura”.

“As reações podem ser de amor ou de ódio, mas ele está rasgando as normas do status quo”

O Trump do segundo mandato rediscutiu a relação com a Otan, conseguiu o compromisso de 5% do PIB com gastos em defesa, arrancou acordos de paz importantes, mesmo obscuros, como os assinados entre a Armênia e o Azerbaijão (Cáucaso do Sul!, exclamam os viciados em geopolítica) e República Democrática do Congo e Ruanda (África Central!). Armou uma ofensiva que ninguém sabe como vai terminar ao designar como terroristas as maiores organizações criminosas da América Latina, o que as torna potencialmente alvos das Forças Armadas dos EUA. Isso pode melar a relação que a presidente mexicana Claudia Sheinbaum constrói meticulosamente. Mas como é possível ficar contra o combate aos responsáveis pelos mais hediondos crimes e pela desestabilização de países inteiros?

O maravilhoso poema de Shelley gerou a expressão “complexo de Ozymandias” para designar a transitoriedade da glória e do poder, usando como símbolo a estátua em que só sobreviveram a cabeça e as pernas do grande Ramsés. Talvez Trump esteja acelerando tudo porque, aos 79 anos, sinta o tempo se esgotar e deixando apenas o “sorriso de frio comando” do faraó todo-poderoso.

Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2025, edição nº 2957

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