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Triste fim do mais precoce e bizarro dos gênios da alta tecnologia

John McAfee achava que seria morto pela CIA e acabou se suicidando numa cela em Barcelona, antes da extradição para os Estados Unidos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 25 jun 2021, 10h34 - Publicado em 25 jun 2021, 08h13

Dinheiro demais, drogas demais, paranoia demais. Poucas personalidades reuniram todos estes exageros – e muito, muitos outros – como John McAfee, encontrado morto por enforcamento na cela da prisão catalã onde viu uma realidade que “daria um thriller de dez mil páginas”.

E quantas páginas renderia o romance de ação, suspense e pura loucura que foram seus 75 anos, vividos como se ele tivesse acabado de fazer quinze e continuasse a ter os 80 milhões de dólares que ganhou quando vendeu, precocemente, sua empresa, ancorado no pioneiro software antivírus que continua a ser usado no mundo todo, com o seu nome (a Intel tentou mudá-lo, mas a marca já tinha ficado muito forte).

McAfee dizia que tinha perdido tudo na crise de 2008 e que não pagava por convicção ideológica os 4,2 milhões de dólares em bens não declarados pelos quais estava sendo processado nos Estados Unidos – uma cascata de acusações que poderia render trinta anos de cadeia, possibilidade que ele decidiu não encarar.

“Eu me descreveria como bastante são e lúcido, motivo pelo qual continuo vivo”, disse ele ao Telegraph quando estava fugindo de Belize, um dos vários países do Caribe onde tentou emplacar um estilo de vida que incluía um harém de sete mulheres e quantidades impressionantes de armas.

Na época, em 2012, o problema em Belize tinha se originado numa briga de vizinhos. O americano Gregory Viant Faull havia apresentado uma queixa contra os cachorros de McAfee, dizendo que atacavam as pessoas. Quatro cachorros apareceram mortos e Faull apareceu com um tiro de Luger na cabeça.

McAfee disse que não atribuía o envenenamento dos cães ao vizinho, mas ao governo de Belize, que havia mandado um esquadrão da morte atrás dele. A conversa com o repórter não durou muito porque o entrevistado não queria ficar falando no celular. “Eles nacionalizaram a companhia telefônica para poderem rastrear as chamadas e fazer a triangulação”, explicou.

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McAfee também se meteu em encrencas na Guatemala, na República Dominicana e até no iate que singrava as águas do Caribe, cheio de cachorros, armas e a própria esposa, Janice, com quem decidiu se casar depois de contratar para um programa.

Três dias antes de seu marido ser encontrado morto na cela em Barcelona, Janice postou que “as autoridades americanas estão determinadas a fazer John morrer na prisão” – uma bela lenha na fogueira dos conspiracionistas que viam nele um espírito libertário que jogou tudo para o alto, disposto a viver a vida como queria e a pagar o preço por isso.

Embora o rebelde solitário seja um dos muitos mitos americanos, McAfee nasceu na Inglaterra e foi com os pais quando era criança para os Estados Unidos. Violento e alcoólatra, o pai se suicidou quando John tinha quinze anos.

Com a mente certa para o tipo de negócio que estava tomando o mundo – os computadores -, ele não terminou o pós-doutorado em matemática por se envolver com uma orientanda e começou a trabalhar como programador. Tomava um ácido todo dia antes de ir para o trabalho, numa época em que os futuros gênios da alta tecnologia já pensavam em vida saudável, longa, produtiva e talvez até fora da Terra. 

McAfee tinha outro jeito de entrar em órbita. Em 1987, quando trabalhava na Lockheed, gigante dos armamentos, escreveu o primeiro programa antivírus. Saiu para criar sua própria empresa de segurança cibernética.

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Depois, se tornou um dos maiores críticos da indústria, alertando que “nossos telefones celulares se tornaram os maiores espiões do planeta”. Criou várias empresas no ramo, entrou no mundo pantanoso das criptomoedas e tentou duas vezes ser candidato a presidente pelo Partido Libertário.

“Os governos são compostos por seres humanos e todas as fragilidades que os humanos possuem são absorvidas nesses governos”, dizia. 

“Ódio, ira, ciúmes, ganância, desconfiança e toda a gama de aflições que os humanos carregam espreitam sob a aparência  de civilidade apresentada mostrada pelo ‘governo’”.

Se alguém tivesse ainda alguma dúvida sobre a vida que acabou levando, McAfee a desfez: “Minha frágil conexão com o mundo da sociedade bem educada foi, sem dúvida nenhuma, cortada”.

Em 2019, ele postou uma tatuagem nova das muitas que tinha e escreveu: “Fiz uma tatuagem hoje só para garantir. Se eu me suicidar, não fui eu. Olhem meu braço direito”. Nele estava escrito: “Wackd”. Apagado.

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