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Vai faltar pipoca em Israel: a ‘batalha dos dois Benjamins’

Frente do general da reserva Benny Gantz consolida maioria eleitoral depois que Bibi Netanyahu virou réu por corrupção, mas a briga é brava

Por Vilma Gryzinski 1 mar 2019, 13h39

Tem vários generais na política, o chefe de governo é acusado de ser teleguiado por Donald Trump e abalado por casos de corrupção, Jerusalém é objeto de discórdia. Centro-direita, direita e extrema-direita se engalfinham. E ainda tem russos no meio.

O país, claro, é Israel. Ao antecipar eleições para 9 de abril, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acirrou um circo político mais agitado ainda do que o habitual.

Seu xará Benjamin Gantz, conhecido universalmente como Benny, fez uma aliança política que cria a possibilidade concreta de riscar o teflon de Netanyahu.

O ex-chefe do Estado Maior das Forças de Defesa e o ex-jornalista de televisão Yair Lapid juntaram-se na coligação Branco e Azul, as cores da bandeira de Israel. Já estavam com uma vantagem, segundo pesquisas, de 36 deputados contra 29 para o Likud de Bibi.

O anúncio de que o primeiro-ministro vira réu em três processos por corrupção passiva, prevaricação e outros badulaques habituais, pode dar um impulso extra, elevando a vantagem do Branco e Azul a 44 deputados.

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Um número assim inviabilizaria o bloco mais à direita que o Likud normalmente faz para conseguir, no mínimo, 61 deputados no Parlamento de 120.

O Likud apelou ao Supremo Tribunal para que o procurador-geral Avichai Mandelblit não concretize, como disse que vai fazer, o movimento contra Netanyahu devido a seu impacto eleitoral.

Tudo, diz o Likud, faz parte de uma conspiração da esquerda para tentar ganhar através de mecanismos judiciários a vitória que não conseguiria nas urnas.

Onde será que já ouvimos esta história antes?

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O curioso é que militares de alto escalão como Benny Gantz, além de Moshe Yaalon e Gabi Ashkenazi, outros generais da reserva que entraram na coligação, sejam acusados de esquerdismo.

Em Israel, hoje, esquerdismo é tudo que envolva qualquer tipo de concessão, principalmente territorial, aos palestinos.

Até o próprio Netanyahu, responsável por um acordo com um partido pária de ultranacionalistas religiosos, entra na dança.

Naftali Bennett, que faz parte da atual coalizão der governo como ministro da Educação e teme que eleitores de seu partido migrem para o Likud, disse simplesmente que “Netanyahu vai dividir Jerusalém” em razão do plano de paz preparado por Jared Kushner por encomenda de seu sogro, Donald Trump.

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Kushner está em plena atividade, voltou a negociar com o príncipe Mohammed Bin Salman, depois de um período de castigo para o herdeiro saudita por ter mandado matar e picar o jornalista Jamal Khashoggi, e tem plantado alguns detalhe do acordo de paz, como o pacote de 25 bilhões de dólares para Gaza e a Cisjordânia.

Sobre o cerne da questão – a criação de um Estado palestino e a situação de Jerusalém -, nem uma palavra.

O que não impediu as reclamações, anônimas por motivos óbvios. “Kushner apareceu de repente no pior momento possível, com os piores detalhes possíveis, obrigando Netanyahu a ficar na defensiva”, reclamou ao site Al Monitor um ministro não identificado.

Qualquer um dos dois Benjamins negociaria como um leão com os Estados Unidos para extrair a maior quantidade possível de vantagens para Israel num eventual acordo de paz.

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O curioso, no caso, é que Benny Gantz teve o que poderia ser chamado de experiência infeliz com os americanos.

Depois de passar para a reserva, Gantz foi ganhar dinheiro com segurança, como faz a maioria dos militares israelenses. Tornou-se sócio de uma empresa que desenvolve programas de Inteligência Artificial para órgãos de segurança, a Fifth Dimension.

A empresa derrapou e acabou fechada, com prejuízo para os investidores, quando potenciais contratos com órgãos americanos viraram fumaça.

Motivo: os Estados Unidos proibiam qualquer operação comercial envolvendo Viktor Vekselberg, um dos bilionários russos na lista negra do governo americano por conexões com Vladimir Putin.

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Vekselberg era um dos investidores na empresa de Benny Gantz. Mas esperem: ele foi convocado e prestou depoimento a Robert Mueller, o investigador chefe da interferência russa na eleição presidencial americana.

E qual a conexão? Vekselberg, cuja família mora nos Estados Unidos e conhece bem a elite e os mecanismos do poder, entrou numa roubada quando achou que era uma boa ideia fazer negócios com Michael Cohen, o advogado e operador de Donald Trump que virou delator do presidente.

Chegou a dar 250 mil dólares para a cerimônia de posse – uma prática comum entre grandes contribuidores de campanha, mas discutível num ambiente envenenado por suspeitas, ainda não confirmadas, sobre laços entre Trump e o Kremlin.

Entre sanções e negócios gorados, Vekselberg perdeu cerca de 3 bilhões de dólares. Russo nascido na Ucrânia, filho de pai judeu e mãe cristã, o oligarca ficou conhecido quando comprou da família Forbes nove ovos da Fabergé, prodigiosas joias feitas para os últimos czares, e abriu um museu em São Petersburgo para expô-los.

Parte do investimento de 500 mil dólares que o braço americano do império de Vekselberg fez numa empresa de Michael Cohen supostamente foi usada para o acordo de confidencialidade mais furado do mundo, o pago pelo advogado para a notória Stormy Daniels.

Indiretamente, a eleição israelense envolve assim um oligarca russo, uma atriz pornô, o futuro de Donald Trump, processos por corrupção contra um primeiro-ministro até agora invulnerável, generais estrelados, traidores políticos e extremistas religiosos.

Ainda tem o elemento indispensável na política atual, uma acusação de abuso sexual supostamente praticado por Benny Gantz há mais de 40 anos.

E, claro, a paz no Oriente Médio. Tragam a pipoca.

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