A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulgou os dados da balança comercial do Brasil em 2023. Ao todo, o Brasil exportou US$ 339,7 bilhões, uma alta de 1,7% em comparação com 2022. Do lado das importações, foram US$ 240,9 bilhões, 11,7% inferiores. Como resultado, temos o saldo da balança comercial, um importante indicador econômico que demonstra o volume financeiro que entra no país, trazendo dólares para a economia e fortalecendo a moeda, gerando investimentos e oportunidades em muitas áreas. Em 2023, a balança registrou superávit de US$ 98,8 bilhões, alta anual de mais de 60,6% e o maior valor já registrado, em uma série histórica que teve início em 1989, resultado positivo diante do contexto econômico global, pois os preços dos produtos vendidos registraram queda de 8,8%, enquanto os volumes cresceram 8,7%, conquistando participação de mercado. Qual o setor que mais contribuiu para estes resultados? Sim, o agronegócio.
As exportações do agro fecharam em pouco mais de US$ 165 bilhões, crescimento nominal de 3,9% em relação a 2022, o que corresponde a quase metade de toda a receita acumulada pelo Brasil no ano passado. Chama ainda mais atenção o superávit do agro, já que o saldo deve fechar em torno de US$ 150 bilhões. Isso demonstra que, sem o agro, o Brasil sairia de um saldo (e recorde) de quase US$ 100 bilhões, para um negativo (déficit) de US$ 50 bilhões.
Exportou-se quase 102 milhões de toneladas de soja, praticamente 30% a mais que ano passado, recorde histórico, com preços cerca de 12% menores. Em carne de frango foram 4,9 milhões de toneladas, crescimento em volume de 7,6% com preços 9% menores. Na carne bovina foram 2 milhões de toneladas, praticamente o mesmo volume, mas com preços 20% menores. A carne suína também aumentou 7,3% em volume (1,1 milhão de toneladas), e teve a sorte de ter praticamente os mesmos preços. Somando o açúcar bruto e refinado (31,35 milhões de toneladas) teve-se um crescimento de volumes de 12 e 40% respectivamente e de preços de 24 e 19% respectivamente, sendo o grande ganhador do ano. E vale destacar o milho, que com crescimento em volume de quase 30%, mesmo com preço 13% menor, chegou ao recorde de quase 56 milhões de toneladas, alcançando a liderança mundial com praticamente 30% de participação nas importações do planeta.
Uma boa notícia para o setor foi a confirmação da queda nos custos dos fertilizantes, insumo pelo qual o Brasil ainda depende, em grande parte, das importações. Em 2023, os preços caíram 44,9%, o que gerou um aumento de 7,5% nos volumes importados, garantindo maior disponibilidade para a safra em andamento e, como consequência, para a oferta de produtos e um novo desempenho das exportações no próximo ano.
Os principais compradores do Brasil em 2023 incluem a China (31,1%), União Europeia (13,6%), Estados Unidos (10,8%), Sudeste Asiático (7,2%) e Mercosul (6,9%). No caso da China, nosso principal parceiro comercial, as compras do Brasil superaram os US$ 100 bilhões pela primeira vez na história. Vale ressaltar que o país asiático é o principal destino de produtos do agro como a soja (60%), a carne bovina (55%) e outros.
Para 2024, a expectativa é de que o Brasil exporte US$ 348 bilhões, uma alta 2,4%, mesmo diante de um cenário desafiador em relação a preços e incertezas na oferta e demanda de alguns produtos. Para o agro, depende de como serão os resultados da safra 2023/24 em andamento, que enfrenta problemas climáticos, mas é possível.
As receitas geradas pelo agronegócio brasileiro exercem um papel crucial na estabilidade econômica do país, ao gerar um saldo que é capaz de sustentar os desempenhos inferiores de outros segmentos. A exportação dos agroprodutos não só eleva a renda nacional, mas também contribui para criação de empregos, controle da inflação, melhorias em infraestrutura e desenvolvimento socioeconômico; além, é claro, do importante papel de contribuir para garantia da segurança alimentar global. A diversificação dos produtos exportados destaca o agronegócio como um pilar seguro da economia nacional. O Brasil deve crescer cada vez mais na exportação das commodities e fortalecer as exportações de produtos já prontos para o consumo final, que também tem crescido, com maior agregação de valor.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinicius Cambaúva e Rafael Rosalino.