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De alimentos a energia renovável, análises sobre o agronegócio
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O avião como um novo cliente do agro

Com o SAF, sigla para 'Sustainable Aviation Fuel', o Brasil pode decolar para um futuro mais sustentável na aviação

Por Marcos Fava Neves
Atualizado em 9 Maio 2024, 19h44 - Publicado em 30 nov 2023, 14h01

O desenvolvimento de práticas sustentáveis, em vários setores da economia, tem despertado interesse global. Considerando que uma das principais atividades que contribui para a emissão de gases de efeito estufa é a queima de combustíveis fósseis, os serviços que utilizam dessa fonte são centro dos holofotes, como o setor de transportes. Aviões correspondem a 2% da totalidade de gases de efeito estufa emitidos no planeta, com possibilidade desse número chegar a 4%. Atrelado a metas globais de redução de gases prejudiciais para o planeta, o setor da aviação juntou forças com o agronegócio para a criação do SAF, abreviação para “Sustainable Aviation Fuel” ou Combustível Sustentável para Aviação.

O SAF é fruto das pesquisas realizadas para impulsionar o mercado de biocombustíveis e surge como realidade para os próximos anos. Assim como outros biocombustíveis, o SAF é produzido a partir de material orgânico de origem vegetal ou animal, mas destaca-se pela aptidão no uso de produtos ou subprodutos (resíduos de processos anteriores), tais como o óleo de cozinha usado, resíduos urbanos, gases residuais, resíduos agrícolas, outros óleos vegetais e o etanol. No Brasil, projetos para a produção do combustível a partir de etanol, resíduos da cana, chips de madeira e biometano estão sendo estruturados.

Os benefícios da adoção do SAF incluem: 1) por ser uma fonte renovável, dispensa a necessidade de utilização de recursos não renováveis, como os combustíveis fósseis (petróleo); 2) uma vez que utiliza alguns resíduos industriais como matéria-prima, contribuiu para que estes materiais não sejam dispensados no meio-ambiente, reduzindo contaminações e a poluição de ecossistemas; e 3) a queima do SAF emite menor quantidade de gases de efeito estufa quando comparados com os combustíveis convencionais utilizados na aviação (querosene). A adoção do “Sustainable Aviation Fuel” também promove benefícios sociais e econômicos, abrindo oportunidades de empregos nas cadeias produtivas que fornecem a matéria-prima, novas empresas e startups especializadas sendo criadas, atraindo investimentos internacionais e promovendo um fortalecimento da economia. Além disso, a redução das emissões de gases de efeito estufa gerará créditos financeiros ou ainda o pagamento por serviços ambientais no mercado de carbono.

Para o desenvolvimento do SAF, além das ações da iniciativa privada para captação de recursos, políticas públicas já estão em andamento, como a proposta do “Combustível do Futuro”. Desde setembro de 2023, o projeto de lei que institui o “Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação” tramita no Congresso, com metas para operadoras aéreas reduzirem as emissões de CO2 em 1% a partir de 1º de janeiro de 2027, por meio do uso de combustíveis sustentáveis. A proposta ainda projeta elevar o percentual em 1% ao ano, até atingir o patamar de 10% no corte das emissões, em 2037.

No Brasil, especialistas do setor enxergam a produção do SAF a partir do etanol (convencional de cana, milho, ou ainda o etanol de 2ª geração – E2G), como uma grande oportunidade de posicionar o país como referência na produção do biocombustível. O etanol pode ser convertido em SAF a partir de um processo denominado alcohol-to-jet (ATJ), que ainda não é realizado em grande escala de produção, mas abre portas para investidores do mundo todo.

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Diversos setores da economia estão promovendo distintas alianças para atuarem nas efervescentes oportunidades desta realidade chamada SAF: empresas aéreas (Latam, Gol, Azul, entre outras internacionais); fabricantes de aviões (Airbus, Boeing, Embraer, entre outras); fabricantes de motores (GE, Rolls Royce, entre outros); agroindústrias e seu elo de produção rural (notadamente as grandes usinas de cana e de processamento de culturas), fabricantes de equipamentos (aqui vale destacar o grande cluster produtivo de Sertãozinho – SP, que vem se convertendo cada vez mais para a área de transição energética), empresas de tecnologias de transformação (de óleos em querosene e de etanol em SAF), do mercado financeiro e empresas internacionais, que entendem as regulamentações e tem acesso a mercados compradores.

A participação do Brasil como tradicional produtor de etanol, biodiesel e biometano abre grandes oportunidades para o SAF, com possibilidade de investimentos em novas plantas, gerando desenvolvimento econômico e social. A produção de SAF é outra área que o Brasil pode ter liderança mundial.

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinicius Cambaúva e Rafael Rosalino.

 

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