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A inexorabilidade da política

A participação da sociedade nas discussões é crucial para o país

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 11h33 - Publicado em 26 jun 2022, 08h00

Em uma democracia em construção, ignorância, opacidade, corporativismo e patrimonialismo minam os avanços. A ignorância impede o bom juízo. A opacidade promove o segredo e a assimetria de informações entre os que sabem e os que não sabem de nada. O corporativismo favorece a desigualdade. O patrimonialismo desvia recursos que deveriam ir para o bem comum.

A política é cruel mesmo quando praticada dentro das regras. A crueldade é ainda maior quando empregada sem respeito às regras e aos princípios de decência, honestidade e transparência. Sem tais princípios, predominam a defesa exacerbada de interesses e o entendimento de que a coisa pública é de quem a controla. Ambas as atitudes prejudicam o país, sobretudo os menos favorecidos.

Por que somos assim? Basicamente, porque estamos em um país em que se disputa o poder pelo poder e não pelas ideias. Assim, entre nós, perder o controle da máquina é a tragédia maior. Por isso, danem-se os princípios, se a intenção for evitar perder o poder ou, ainda, buscar recuperá-lo. Como se não bastasse, os que têm boas intenções na política podem ser cuspidos para fora dela antes mesmo de serem mastigados pela máquina.

Paradoxalmente, a solução para nossos dilemas é a política. Saber mais e melhor sobre a política é o caminho inexorável. Participando da política, sabendo mais sobre ela e examinando-a sob a óptica dos princípios, nossas decisões serão as melhores. E tudo o que o Brasil precisa, no momento, é de boas decisões. Só que para isso necessitamos de boas ideias.

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“Tudo o que o Brasil precisa é de boas decisões. Só que para isso necessitamos de boas ideias”

Infelizmente, porém, nossos intelectuais não estão à altura da política. Poucos participam ativamente do processo político. Quando muito, exercem uma crítica distanciada — quando não ideologizada ou romântica — dos acontecimentos. Contamos nos dedos de uma das mãos os intelectuais que fogem a essa regra.

Como consequência, os debates eleitorais, bem como a percepção da sociedade sobre os governos, são mais emotivos do que racionais, independentemente de quem esteja no poder. São também — e principalmente — superficiais, o que dificulta uma visão crítica de nossa realidade. É nesse ponto que ressentimos a ausência de um papel mais ativo por parte da intelectualidade com base no pragmatismo, na lógica e na ciência.

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Enfim, saber mais e melhor sobre política decorre da sua inexorabilidade para resolver nossos desafios. Fora da política não há solução. Sabendo mais sobre política será possível reconhecer, com mais precisão, o que existe de positivo e de negativo em aliados e adversários e que foram feitos progressos significativos nas últimas décadas.

Porém temos ainda uma desigualdade social que põe em risco as conquistas e os avanços existentes. Nossa política ainda é claramente machista e misógina. Tais fatos demandam imediata ação por parte da sociedade. As melhores soluções dependem de sabedoria, equilíbrio e pragmatismo. Já a velocidade dos potenciais avanços ou a intensidade de nossos retrocessos dependerá, em última instância, da participação qualificada no debate das questões óbvias que nos afligem como sociedade.

Publicado em VEJA de 29 de junho de 2022, edição nº 2795

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