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Governabilidade em 2023

O novo presidente, seja ele qual for, será mais fraco que o atual

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 11h47 - Publicado em 8 out 2022, 08h00

Antes mesmo que se saiba o nome do próximo presidente da República, os principais vetores da governabilidade já estão postos. Tanto por seus aspectos exógenos quanto pelos endógenos. Serão eles que imporão os limites e os desafios à governabilidade do presidente a ser eleito em 30 de outubro.

Vamos começar pelos aspectos exógenos. Em 2023, o mundo exterior será desafiador, por causa de situações críticas como as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia. Não há expectativa de curtíssimo prazo de término do conflito. Aparentemente, o cenário terá de piorar para ter uma resolução.

A Rússia embarcou em uma canoa furada e não sabe como sair da situação sem sofrer uma humilhação histórica. A ponto de um ataque nuclear, ainda que pontual, não estar completamente descartado. Agora imaginem uma nuvem de radioatividade pairando sobre o Leste Europeu… Com a continuidade da crise russa, outras crises prosseguirão, provocando inflação e desabastecimento.

A concomitância da pandemia de Covid-19 com a invasão russa trouxe repercussões inflacionárias significativas. Economias consideradas estáveis estão vivendo riscos de estagflação. A China, um dos motores de crescimento do mundo, também entrou em crise. Além do fato de ter apoiado a aventura russa e de manter o mundo em suspense em relação a Taiwan. Não sabemos que desdobramentos a crise chinesa legará ao Brasil.

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O mundo vive uma tempestade perfeita, juntando guerra com inflação, estagnação, crise energética e, ainda, as sequelas da pandemia. Tal quadro estará presente em 2023, desafiando seriamente o Brasil.

“O primeiro turno das eleições mostrou um Brasil cauteloso e conservador. É um bom sinal”

Temos ainda nossos próprios problemas, que também colocarão à prova o futuro governo. Institucionalmente, vivemos uma longa transição do hiperpresidencialismo para uma espécie de semiparlamentarismo. O novo presidente, seja ele qual for, será ainda mais fraco que o atual. O Judiciário, pelo seu lado, prosseguirá ativo e sendo chamado a decidir questões políticas.

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A sociedade brasileira, crescentemente mobilizada, deseja soluções que vitalizem a economia e a redução da desigualdade. O desmonte da economia informal pela pandemia agravou aspectos críticos, tornando a retomada do crescimento um imperativo para que a sociedade não entre em conflito.

O Brasil jamais se transformará em uma nova Venezuela, em razão da força de nossas instituições públicas e privadas. Mas não podemos dar chance ao azar em um momento em que o mundo não nos ajudará. Os desafios internos e externos vão exigir prudência, pragmatismo e liderança. E enfrentamento de problemas históricos, como o corporativismo, o patrimonialismo, a corrupção, a opacidade dos poderes públicos e a desigualdade.

O primeiro turno das eleições mostrou um Brasil cauteloso e conservador, no sentido de apoiar a moderação. E o Congresso Nacional de 2023 refletirá tais características. É um bom sinal, já que devemos prosseguir como uma sociedade cujo modelo político principal é o da construção de consensos. Isso exigirá do novo presidente capacidade para construir acordos, a fim de nos proteger de um mundo instável, e, ao mesmo tempo, capacidade para enfrentar nossos problemas internos.

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Publicado em VEJA de 12 de outubro de 2022, edição nº 2810

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