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O Brasil dos carros blindados

Nenhum outro país chega sequer perto da nossa expressiva frota

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 10h23 - Publicado em 8 out 2023, 08h00

O Brasil ostenta, indiscutivelmente, a maior frota de carros blindados do mundo, com números impressionantes, que variam de 116 000 a 300 000 unidades, dependendo da fonte. Nenhum outro país chega sequer perto dessa marca. Surpreendentemente, nações com históricos de violência e crime organizado, como México e Rússia, possuem frotas menos expressivas que a brasileira.

A proliferação de carros blindados é uma resposta tanto à realidade da violência quantificada em números alarmantes quanto à percepção generalizada de insegurança que permeia a sociedade brasileira. As consequências da violência são avassaladoras, afetando profundamente a sociedade na forma de desemprego, disparidades sociais e econômicas, queda na arrecadação de impostos e precariedade nos serviços públicos — e essas são apenas algumas das consequências.

Além disso, a violência provoca a privatização da segurança, situação em que apenas aqueles que podem arcar com carros blindados e seguranças pessoais se sentem protegidos, ampliando o abismo entre os privilegiados e os que enfrentam o caos do cotidiano sem proteção. A violência é tanto um dos mais graves sintomas da desigualdade quanto uma de suas causas.

Em 2022, o Brasil registrou 47 398 mortes violentas intencionais, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o que equivale a quase 130 mortes por dia. A média, embora represente uma redução pequena sobre a taxa diária de 2021 (132), é a mais baixa desde 2011. No primeiro semestre deste ano, o país contabilizou 18 700 mortes violentas, uma média de quase 103 por dia, em comparação com 20 400 no mesmo período do ano anterior.

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“A violência exige soluções sistêmicas que envolvam um plano abrangente de reconstrução da segurança pública”

A tendência de queda observada em 2022, com uma redução de 1,8% nos homicídios dolosos, é um sinal positivo, mas os números continuam chocantes. Denunciar essa situação é importante, mas não suficiente. A violência no Brasil exige soluções sistêmicas que envolvam um plano abrangente de reconstrução da segurança pública unindo os três poderes da União e os entes federativos. Tal processo deve se basear em análises, pesquisas e aplicação de tecnologia de ponta, com orçamentos específicos e metas bem definidas.

A redução das mortes violentas, o que vem ocorrendo desde 2021, precisa ser acompanhada da restauração da sensação de segurança nas ruas e nos transportes públicos. E isso pode ser alcançado por meio de policiamento constante e visível, uso de tecnologia para identificação de criminosos, análise estatística de ocorrências criminais, inteligência policial e revitalização de áreas negligenciadas pelo poder público, incluindo melhorias na iluminação.

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Enquanto uma abordagem sistêmica da violência não se concretizar e a cultura do crime persistir, o Brasil seguirá conhecido como “o país dos carros blindados”. Seria até irônico sugerir a criação de um “carro popular blindado” pelo governo.

A sociedade e o governo não podem esperar que a situação melhore por si. A esperança não é estratégia adequada para enfrentar um problema que pode se agravar ainda mais, como comprovam os eventos recentes na Bahia, no Rio de Janeiro e na Baixada Santista. Enquanto isso, as vendas de carros blindados continuarão a aumentar. Pois, como disse o político irlandês John Philpot Curran, no século XVIII, “a condição sob a qual Deus deu liberdade ao homem é a eterna vigilância”.

Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2023, edição nº 2862

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