O ex-ministro Sergio Moro poderá ser anunciado candidato à Presidência pelo Podemos. Em novembro, o PSDB deve definir o nome que vai concorrer pelo partido. Caso tais iniciativas se confirmem, teremos mais dois postulantes ao cargo, além de Jair Bolsonaro, Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT). Ainda assim, existem muitas indefinições no campo alternativo à polarização Bolsonaro versus Lula. O PSD de Gilberto Kassab deseja lançar Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado. O DEM e o PSL, que estão se unindo numa única legenda, ainda não sabem se terão ou não candidato próprio. A terceira via disputa uma fatia de aproximadamente 30% do eleitorado. Ora, quando se tem candidatos demais, não se tem nenhum.
Até agora nenhum dos nomes alternativos parece ter força para incorporar e encorpar a narrativa da terceira via. Doria tem estamina e currículo, mas encontra resistência no partido. Leite tem simpatia e potencial, porém depende de ser confirmado pelos convencionais do PSDB e se transformar em nome nacional. Rodrigo Pacheco ainda luta para encontrar seu espaço e um discurso na pré-campanha. Ciro Gomes não é considerado um nome de terceira via e sim uma alternativa de esquerda. Por isso, seu espaço fica espremido entre o centro e a candidatura petista. Moro, com seu prestígio e certa preferência nas pesquisas de opinião, poderá chegar com impacto à disputa. Mas enfrentará resistência para construir alianças e montar palanques competitivos. Muitos no meio político se lembram do que a Operação Lava-Jato fez.
“Lula e Bolsonaro sabem que o pleito será decidido pelo eleitor não polarizado, que votará no menos pior ou simplesmente contra um deles”
As indefinições da terceira via favorecem a polarização. Uma eventual candidatura de Moro vai dividir ainda mais os antibolsonaristas e os antilulistas. Quanto mais candidatos aparecerem nesse espectro, melhor para a polarização, o que nos leva a outra reflexão. A menos de um ano das eleições, existe espaço para uma narrativa nem nem? A essa altura dos acontecimentos, o eleitor estaria disposto a bancar um projeto político que ainda não apareceu? Apesar de o tempo não parar, e cada vez ser mais estreito para grandes acontecimentos, existe espaço para uma narrativa alternativa. Isso porque Lula e Bolsonaro carregam mochilas pesadas de rejeição e de equívocos. Tal fato se espelha nas pesquisas eleitorais que apontam um porcentual de votos que não seguirá nem com Lula nem com Bolsonaro.
O fato de ambos apresentarem elevada rejeição está sendo determinante em seus movimentos. Lula faz uma pré-campanha mais do que discreta e desejaria que fosse assim até o dia da eleição. Bolsonaro radicalizou até levar um cartão amarelo do Supremo Tribunal Federal e se aquietar. Foi convencido de que, se continuasse a esticar a corda, sua reeleição estaria comprometida. A partir de agora, Lula e Bolsonaro vão abusar da ambiguidade para manter suas respectivas bases e não perder a possibilidade de se eleger. Os dois sabem que o pleito será decidido pelo eleitor não polarizado, que votará no menos pior ou simplesmente contra um deles. No final das contas, ambos vão precisar dos eleitores de centro, os “isentões”. Eles vão decidir quem será o próximo presidente do Brasil. Seja ou não da terceira via.
Publicado em VEJA de 20 de outubro de 2021, edição nº 2760