Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Murillo de Aragão

Por Murillo de Aragão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Continua após publicidade

Semipresidencialismo em ação

Importante é a perícia para navegar no sofisticado jogo político

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 10h19 - Publicado em 15 out 2023, 08h00

Depois dos tropeços iniciais e de narrativas confusas, o novo mandato de Lula encontra alguma tranquilidade quando opera sob a égide do semipresidencialismo de coalizão. Basicamente, é uma transformação do modelo descrito por Sergio Abranches nos anos 1980 e conhecido como presidencialismo de coalizão. Naquele sistema, o presidente da República, com seus superpoderes sobre o Orçamento e a distribuição de cargos, cooptava apoio mediante as tradicionais operações de fisiologismo político.

No século XXI, esse presidencialismo de coalizão em que o presidente da República era a maior força foi se degradando. Tanto pela evolução política quanto pela sucessão de eventos que desafiaram o equilíbrio institucional e deram nova forma às relações entre os poderes. Talvez o marco inicial tenha sido o escândalo do mensalão, que terminou em rumorosos julgamentos e prisões. Adiante, tivemos sucessivos episódios políticos significativos. Vale mencionar os seguintes: Lei da Ficha Limpa (2010), protestos em São Paulo (2013), nova lei anticorrupção (2013), Operação Lava-Jato (2014), a criação das emendas orçamentárias impositivas (2015), o fim do financiamento empresarial de campanhas eleitorais (2016) e o chamado “orçamento secreto” (2019).

“O quadro institucional dos últimos anos permitiu avanços e impediu devaneios autoritários”

A criação de maiorias, antes tarefa exclusiva do presidente, passou a ser operada a partir do Congresso, sob os comandos de Eduardo Cunha e Renan Calheiros e reforçada sucessivamente com Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. O eixo do poder prosseguiu ligando os três poderes da República, mas a força do Legislativo e do Judiciário foi aumentando em detrimento das autonomias da Presidência da República. O modelo de governança política passou a ser um semipresidencialismo em que o chefe do Executivo se submete à palavra final em questões críticas aos demais poderes. Tanto que recentemente — e como ocorrera no governo Jair Bolsonaro — as propostas do Palácio do Planalto não são necessariamente aprovadas em seus termos originais.

Continua após a publicidade

O semipresidencialismo de coalizão do momento tem ainda características antes inéditas na cena política nacional: a judicialização da política, a profusão de decisões monocráticas no STF e a criação da autonomia do Banco Central. Para setores governistas, o modelo é inaceitável por resultar em uma clara diminuição de poder do presidente da República. Porém, é assim que funciona o jogo político de 2023, regido por novas regras e novos costumes, que mudaram radicalmente a inter-relação institucional entre os poderes. Dessa forma, a perícia em navegar em um sofisticado jogo político conta mais do que qualquer outro aspecto para o sucesso do governo. Assim, a habilidade de ceder e conceder é a qualidade mais relevante para que o país avance sem percalços e sobressaltos. Ainda que o Brasil esteja longe de realizar o seu imenso potencial, o quadro institucional dos últimos anos permitiu avanços importantes materializados em reformas, impediu devaneios autoritários e ampliou o espectro da negociação política.

Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2023, edição nº 2863

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.