Uma guerra jurídica está a todo vapor nos bastidores da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, envolvendo os três acionistas de referência da Americanas – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira – e bancos credores. Sicupira foi CEO da companhia entre 1983 e 1991 e integra hoje o conselho de administração, por isso é visto no mercado como um dos mais próximos do dia a dia da operação.
Credores ouvidos por esta coluna afirmam que Sicupira poderá até ser preso – numa medida extrema – para que seja garantido o cumprimento das obrigações fiduciárias da varejista, que declarou dívidas totais de R$ 43 bilhões. “Marcel e Lemann estão sendo arrastados”, analisa um banqueiro. “Quem estava no conselho e tocava era o Sicupira”, completa.
Mas como a prisão de um dos acionistas seria possível? Segundo advogados, isso “só faria sentido se houver indícios fortes de que algum dos investigados esteja tentando atrapalhar as apurações”. E é exatamente esse ponto que entrou na mira das equipes jurídicas dos credores, à procura de elementos que possam ajudá-los nos tribunais.
Por falar em tribunais, a informação é que Lemann, Telles e Sicupira – os mais ricos do país, segundo ranking da Forbes – já começaram a fazer contato com advogados criminalistas para enfrentar individualmente essa guerra, para além das ações que envolvam apenas a questão contábil e de governança corporativa da Americanas. Essa possibilidade já está sendo escrutinada e levada em consideração, neste momento de esclarecimentos das questões do balanço da companhia.
Está sendo especialmente analisado pelos bancos o papel do conselho de administração, considerado o principal guardião dos negócios nas empresas, além do conselho fiscal e do comitê de auditoria. No país que se acostumou a ver as condenações e prisões do empresário Eike Batista (por crimes contra o mercado de capitais e em operação que derivou da Lava Jato) como os capítulos de uma minissérie, o “caso Americanas” está só começando. Atenção para o final da primeira temporada.