Pesquisa inédita obtida para esta coluna mostra a evolução dos principais aplicativos de mensagens entre os brasileiros. Líder inconteste, o WhatsApp mantém o primeiro lugar: ele roda hoje em 99% dos celulares em operação no país, de acordo com números tabulados pelo MobileTime em parceria com a empresa de pesquisas on-line Opinion Box. Na sequência, aparecem o Instagram (com uma participação de 86%, vindo de 82% na sondagem feita em fevereiro passado) e o Messenger (caiu de 71% para 70%, ainda dentro da margem de erro, de 2,2 pontos percentuais). Foram entrevistados 2.073 brasileiros com mais de 16 anos de idade entre os dias 13 e 27 de julho.
O Telegram, foco maior das preocupações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a menos de dois meses das eleições, também aparece na pesquisa. Proporcionalmente, foi o que apresentou o maior ritmo de crescimento: passou de 60%, em fevereiro, para 65% dos celulares em funcionamento no país. “Embora venha crescendo rapidamente, o Telegram ainda está longe do WhatsApp”, afirma Fernando Paiva, coordenador da pesquisa. Pesa contra o aplicativo criado em 2013 pelos irmãos Nikolai e Pavel Durov a pecha de ser uma espécie de “terra sem lei” quando se trata de moderação de conteúdo e distribuição de fake news. No Brasil, a empresa costuma ignorar os chamados da Justiça e as notificações relacionadas às eleições.
Importante notar que a pesquisa da Mobile Time/Opinion Box ficou pronta poucos dias depois da divulgação do teor de um grupo específico de mensagens não no Telegram, mas no WhatsApp – justamente o líder de mercado. Nele, empresários que apoiam o presidente Jair Bolsonaro trocam mais do que impressões sobre o quadro eleitoral brasileiro. Com críticas ao TSE e ao Supremo Tribunal Federal (STF), eles falam abertamente em golpe caso o petista Luiz Inácio Lula da Silva termine em primeiro lugar em outubro. E ontem esses empresários foram alvos da Polícia Federal com mandados de busca e apreensão, expedidos por Alexandre de Moraes, ministro do STF.
Ainda no caso do WhatsApp, a pesquisa mostra quantos participam de grupos exclusivos. Dos entrevistados, 75% disseram integrar grupos formados por parentes ,e 66% por grupos de colegas de trabalho (vindo de 60% em fevereiro passado). O interesse específico pela política também está documentado: 15,3% participam de grupos fechados sobre o tema, porcentual que não variou em relação a fevereiro. Em sua maioria, são compostos por homens e, por margem apertada, das classes C, D e E.
Num esforço para tentar conter a disseminação de notícias falsas, STF e TSE têm discutido normas e procedimentos com os aplicativos de mensagem. Mas o episódio envolvendo o WhatsApp – que costuma manter uma postura mais colaborativa em relação às autoridades – indica que as empresas continuam falhando na checagem de conteúdos, no processamento de denúncias e na transparência para combater o discurso de ódio e a desinformação. É como enfrentar a força destrutiva de um tsunami com a ajuda de alguns poucos sacos de areia.