O ponto que preocupa o mercado em relação à operação da PF
O receio é de que operações como a 'Tempus veritatis', que implicou Bolsonaro e militares em tentativa de golpe, possam chegar ao CN e paralisar as votações
“Tempus veritatis” – ou “hora da verdade”, numa tradução livre da expressão latina – foi o nome dado à operação da Polícia Federal que apontou o envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro, de alguns de seus ministros e de parte da cúpula militar numa tentativa de golpe de Estado. Autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a investigação sacudiu o mundo político, com prisões e buscas e apreensões em casas de alguns dos suspeitos (Bolsonaro teve de entregar seu passaporte à PF), e reforçou a sensação de que “vem mais coisa por aí”.
Longe de Brasília, a avaliação nos corredores dos principais centros financeiros do País, em São Paulo e no Rio, foi mais fria. Isso não quer dizer que não exista preocupação com eventual impacto das instabilidades políticas para os negócios. O que a coluna ouviu foi que as investigações de Supremo e PF só tirariam o sono do capital privado se batessem no Congresso Nacional. “Se isso acontecer – o que eu não acredito – poderia travar o Congresso”, afirma um banqueiro da Faria Lima. “E isso teria impacto imediato na economia”, conclui. Outras opiniões vão de “não há impacto algum na economia nacional” a “só afeta o Bolsonaro e o bolsonarismo”.
“Bater no Congresso” significaria paralisar a agenda de votações que estão previstas para os próximos meses. E não é pouco coisa que está pendente de decisão de deputados e senadores, com destaque para a regulamentação da reforma tributária aprovada em 2023, que muda a incidência de impostos sobre bens e serviços. O assunto interessa a grandes setores empresariais, porque, entre outras questões, a regulamentação vai definir as alíquotas do novo IVA e a lista de produtos com tributação diferenciada. Ainda nesse campo, a equipe econômica se comprometeu a apresentar o projeto de reforma tributária sobre a renda. Como ninguém no setor financeiro rasga dinheiro, o que deve prevalecer daqui para frente é maior cautela.