Pode ser a salvação da lavoura. Hamilton Mourão não é objeto de decoração. General, patentes acima do capitão Bolsonaro, é vice-presidente que fala. Quando cogitou-se abrir a votação para a presidência do Senado, avisou Renan Calheiros: “Vai dançar”.
Dançamos todos, nesse caso. Fosse um ou fosse outro. Renan Calheiros e Davi Alcolumbre (e outros tantos senadores e deputados) tem rabo preso com a justiça. Crimes diferentes. O presidente eleito do Senado responde a inquéritos por caixa dois em sua campanha no Amapá, e superfaturamento de obras no Estado. Baixo clero da política, quase um Severino Cavalcanti. A conferir.
Mas temos Mourão. Cenário em que, se não tem remédio, remediado está. O vice estipulou seu papel. Pode dar clareza – para o bem ou para o mal – a um governo que, até agora, praticamente não começou. Ah.. sim.. tem o pacote do Moro. O ex-juiz propôs leis anticrime. Mais leis? A gente tem de sobra. Violência, idem. A conferir.
O vice ainda se mete nos assuntos que envolve a família Bolsonaro. Achou plausível a decisão do ministro Marco Aurelio de “jogar no lixo” recurso de Flavio contra Ministério Público do Rio. O MP investiga o senador por movimentações financeiras suspeitas. “Segue o baile. O (Supremo) fez seu papel, tomou a decisão que considerou mais coerente”.
Melhor dos mundos seria que Mourão apenas ornamentasse a vice-presidência. Não será assim. Deu e dará muitas entrevistas. Em inglês e espanhol, inclusive. Critica a postura do chefe, sem citá-lo. “Não podemos tratar a imprensa como inimiga”. Completa: “a nossa comunicação é ruim, né? Ruim é até elogio”. Exatamente o oposto do que pensam os Bolsonaro, que atacam a imprensa pelas redes sociais. Sistematicamente, em mau português.
A família e o núcleo palaciano terão que engolir Mourão até 2022, no mínimo. Ele é cioso de seu espaço. “O vice-presidente é uma pessoa permanente no governo. Ele só sai se pedir para sair. Os ministros poderão ser trocados eventualmente”, clarifica. Vai dar trabalho ao chefe.
Sobre tabus do governo, é assertivo. Aborto: “minha opinião como cidadão, não como membro do governo, é de que se trata de uma decisão da pessoa”. Mudança da Embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém. “Eu sou conservador. Fica onde está”. China: “não podemos nos descuidar do relacionamento com nosso principal parceiro comercial”. Jean Willys: “ameaças contra o deputado é crime contra a democracia”.
E Olavo de Carvalho, guru dos ministros da Educação, Relações Exteriores, dos Direitos Humanos .. e da trupe Bolsonaro? Usa ironia fina: “Ele está nos Estados Unidos. Que aproveite o inverno”.
Óbvio, Mourão não seria vice de Bolsonaro se fosse bonzinho o tempo todo. Golpista no impeachment de Dilma, é a favor da liberação do porte de armas e não aceita chamar de ditadura o período instalado com o golpe de 1964. Num governo Bolsonaro, evidentemente não dá pra chamar de seu um vice general. Da ativa. A conferir.
BRUMADINHO – Como o mundo todo, o colunista do espanhol El País, Juan Arias, ficou tão chocado com o desastre de Brumadinho que sugeriu o Prêmio Nobel aos bombeiros que trabalham incansavelmente, arrastando-se na lama que sufocou a cidade, o Brasil, e centenas de vidas. Merecidíssimo! É o mínimo que se pode fazer para recompensar tamanha dedicação, profissionalismo e coragem.
Mirian Guaraciaba é jornalista, paulista, brasiliense de coração, apaixonada pelo Rio de Janeiro