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Harry e Meghan – Power of Love

Psicanálise da Vida Cotidiana

Por Carlos de Almeida Vieira
Atualizado em 23 Maio 2018, 16h00 - Publicado em 23 Maio 2018, 16h00

As núpcias da realeza mostraram ao mundo um momento de felicidade. Felicidade não eterna, nunca será, mas um momento, um tempo circunstancial, um estado de alma pouco vivido nesse mundo caótico, esquizo, desintegrado, e principalmente cheio de desesperança. Uma época na qual a ameaça fascista, selvagem, populista delirante, preenche dia a dia na mídia, um clima de iminência de catástrofe e de ameaça constante à paz mundial.

A metáfora do “casamento real”, na união de raças é aquela que um faixo de luz enche os olhos da humanidade para uma possibilidade – “power of love” – poder do amor, preponderando sobre as consequências destrutivas da voracidade, da gula, da pretensiosidade arrogante dos muitos governos dominantes, onde a ganância da exploração, da corrupção, do desrespeito aos direitos humanos semeiam um novo Apocalipse.

O Império Britânico e seus colonizados afro-descendentes mostram a possibilidade de uma união, ou mesmo uma relação que aponta para algo criativo no mundo do colonizador e o colonizado. Mesmo notando ainda um contraste entre a arrogância anglicana e a afetividade da “igreja negra”, o sermão do pastor mesclado com a beleza, tristeza e delicadeza do canto gospel, mostrou ao mundo que a palavra do sofrimento oriundo da África e dos povos massacrados pelos conquistadores arrogantes, o amor vence o ódio e a avareza.

Os sorrisos de Harry e a delicadeza do prazer de Meg simbolizavam a esperança de uma juventude que ainda acredita na paz, no afeto e no respeito humano. O solo do cello, a doçura da “origem blues” do canto gospel e a melodia e harmonia da música erudita lembraram-me a “Ode à Alegria” que Beethoven musicou na sua 9ª Sinfonia, do romantismo germânico.

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O mundo assistiu mais do que a beleza de uma cerimônia nupcial. O mundo ouviu um grito de esperança e socorro de uma população universal que sente a cada dia o perigo de um extermínio mortífero do humano, que resgate uma racionalidade casada com a afetividade, que haja o “poder do amor” sobre o ódio do narcisismo perverso.

“Para ti olho, e a dor vai se aliviando,
Pego-te em mão, torna-se o ansiar mais brando,
Do espírito reflui pouco a pouco a corrente.
Sou impelido já alto mar em fora,
Flui a meus pés espelho refulgente,
Anovas margens chama nova aurora”.

Versos de Goethe em seu Fausto I, no monólogo segundo, de sua obra universal.

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