A esta altura do jogo, de pouco valem as afirmações do ex-juiz Sérgio Moro de que não será candidato à sucessão de Jair Bolsonaro, nem candidato a vice na sua chapa, ou de que apenas deseja servir ao governo até o fim como ministro da Justiça.
O futuro de Moro não pertence a ele, mas a Bolsonaro. Ou ao que acontecer com Bolsonaro. É assim desde que Moro aposentou a toga na condição de herói brasileiro da luta contra a corrupção para aderir ao candidato que mais se beneficiou do que ele fez.
Em qualquer parte do mundo seria um escândalo de grande monta um juiz influenciar a história política do seu país do modo tão marcante como Moro fez para no momento seguinte ir servir sem nenhum pudor ao presidente que ajudou a eleger. Não aqui.
Moro entrou no governo como um dos dois ministros irremovíveis, com a mesma estatura de Paulo “Posto Ipiranga” Guedes, o xerife da Economia. Fazia sentido. Guedes avalizou Bolsonaro junto aos donos das grandes fortunas. Moro, junto aos revoltados.
Nove fora nove meses de governo, restou a Moro a popularidade quase intacta da porta do ministério para o meio da rua. Da porta do ministério para dentro do governo apagou-se seu facho. Virou um reles tarefeiro do capitão – e não dos seus próprios sonhos.
Quem no passado dizia que Caixa 2 era um crime contra a democracia perdoou seu colega Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil da presidente da República, que recebeu R$ 100 mil de ajuda omitida da Justiça e depois declarou-se arrependido.
Onde estava Queiroz? Moro nunca quis saber. E se soube nunca contou. E a suspeita de envolvimento do senador Flávio Bolsonaro com desvio de dinheiro dos salários pagos a seus funcionários na época em que era deputado estadual? Moro calou-se.
A Bolsonaro repassou informações sigilosas apuradas pela Polícia Federal sobre candidaturas laranja do PSL de Minas Gerais – o que não poderia ter feito. E saiu em defesa dele quando Bolsonaro foi citado como possível favorecido pelos resultados do laranjal.
É o Coringa do presidente. Aquele que Bolsonaro saca para vencer a mão quando ela parece empatada ou perdida. Chefia uma espécie de esquadrão especializado em limpar a cena de controvérsias capazes de abalar o governo ou alguns dos seus personagens.
Executa bem o serviço – e, por isso, Bolsonaro o tolera, embora o tema pelo que sabe e por ser mais popular do que ele. Se preferir livrar-se de sua companhia, o indicará para ministro do Supremo Tribunal Federal na vaga de Celso de Mello, o decano da Corte.
Se não, poderá preservá-lo como o nome para a vaga de Hamilton Mourão, o vice-presidente descartável a partir de 2022. Moro procede como se estivesse conformado com a perda de controle sobre seu destino. Entregou-o a Deus – ou melhor, a Bolsonaro.