A demissão de Pedro Parente da presidência da Petrobras lança a crise no imponderável. O governo não possui um plano B para a gestão de preços de combustíveis. E os efeitos desse vazio gerencial, em torno da maior estatal do país – com ações nas bolsas internacionais –, não favorece a normalização institucional.
A empresa, que vinha se recuperando, despenca no mercado. E continua refém de pressões políticas de toda ordem. Não agradava à população, por óbvio, a política de reajustes quase diários dos combustíveis, sobretudo levando-se em conta que os salários há muito não têm reajustes. Também não agradava aos políticos.
Os motivos, evidentemente, não são os mesmos. As estatais são defendidas com ardor pelos políticos, sobretudo à esquerda, pelo manejo fisiológico que propiciam. A Petrobrás, que, com as gestões Lula-Dilma, chegara ao limite de sua capacidade de amamentar corruptos, estava num raro momento de gestão técnica. Acabou.
A greve dos caminhoneiros, que dela perderam o controle faz dias, está sob nova administração – política e radical: de um lado a esquerda, que quer melar as eleições por não ter candidato competitivo; de outro, a direita, que quer intervenção militar, por não confiar nas urnas eletrônicas e na Justiça eleitoral.
Ambas querem a cabeça do presidente da República. E talvez a queiram por não possuir uma. A saída do presidente, hipótese que não se descarta (aliás, nada se descarta, neste momento), gera, a quatro meses das eleições, mais males que os que evita.
Entre outros, torna as eleições uma incógnita.
Não por acaso, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado acaba de aprovar projeto que regulamenta a eleição indireta para presidente e vice-presidente da República, em caso de vacância de ambos os cargos nos dois últimos anos do mandato presidencial.
O projeto é do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que o apresentou em 2015, antes do impeachment e já o prevendo. Caiado queria, com a saída de Dilma, a antecipação das eleições de 2018. Talvez, se acolhida, sua proposta tivesse estancado a crise.
Agora, soa extemporânea. Será de valia para crises futuras, que nisso o país não falha. Se não houver recurso para análise em plenário, o projeto segue para a Câmara dos Deputados.
Pelo projeto, na hipótese de vacância, os partidos poderão apresentar candidato, que não precisam ser membros do Parlamento. Por hipótese, se Temer, renunciasse neste fim de semana, seu sucessor indireto governaria por cerca de cinco meses, descontado o período de lançamento da candidatura e do rito eleitoral.
De quebra, interferiria na campanha eleitoral ou mesmo poderia servir de pretexto para questioná-la. Um furdunço.
O Brasil, mais que nunca, confirma sua tradição de país do provisório e da interinidade.
Ruy Fabiano é jornalista